Entre tantas vidas de gaúchos impactadas pela falta de energia elétrica desde a última terça-feira (16), está a de Aracy Rotunno Mendes Pereira. A idosa de cem anos, que reside no distrito de Morungava, no interior de Gravataí, na Região Metropolitana, compartilha a rotina no lar com a filha Estela Mendes Pereira, 71.

A centenária aproveitou a luz do dia que entrava pela janela da sala na manhã nublada desta segunda-feira (22) para dedicar-se ao crochê. O hobby tornou-se uma das poucas ocupações nos últimos dias, já que a luz faltou na noite da tempestade.

— É horrível não ter luz. Como é que eu faço? Faço nada — declara Aracy.

Estela, que trabalha com conserto de roupas, mostra que, com a força do vento, algumas árvores do pátio foram arrancadas, algo que relata nunca ter visto antes. Uma delas caiu no telhado da residência e causou danos, permitindo que a chuva invadisse o interior da casa.

— A mãe, se ela olhar muito para fora, só diz: "Que horror". A gente está esperando a RGE, e eu tinha esperança de enxergar eles ainda hoje. Confesso que estou exausta, com 71 anos, cuidando de minha mãe de cem anos. Aqui, só temos água de poço artesiano ou cavado, e eu que tenho que puxar água do poço artesiano — desabafa Estela.

Com a falta de energia elétrica, as velas, o lampião a querosene e a lanterna tornaram-se companheiros de mãe e filha. Para higiene pessoal, a solução é recorrer a canecas, por vezes cheias de água da chuva e, em outras ocasiões, água mineral comprada. O prejuízo ainda não foi calculado.

— A rotina é essa, né? Tentando limpar um pouquinho do entorno da casa, para jogar fora, e minha mãe poder caminhar ali na volta. Estou tentando cozinhar. Para carregar o celular, é só no carro. E a sorte que eu tenho um (veículo) em que eu posso sair, porque tem muita gente que está mil vezes pior do que eu. Não posso deixar de pensar nisso — afirma a filha.

A RGE afirmou, no início da tarde desta segunda-feira (22), que 10 mil clientes estão sem energia elétrica no Rio Grande do Sul, sendo a maioria na Região Metropolitana. A empresa informa que está trabalhando para restabelecer a energia no menor prazo possível, mas não fornece uma previsão. 

Conforme a concessionária, a maioria dos serviços que ainda precisam ser concluídos para a normalização total do fornecimento são de grande complexidade devido ao volume de vegetação e objetos sobre a rede. "Além de demorados", a RGE informou que, quando concluídos, os serviços permitem religar apenas alguns clientes.