Coluna da Maga
Magali Moraes e as árvores contorcionistas
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Não é fácil a vida das árvores que moram nas grandes cidades. Se elas pudessem escolher, iriam preferir viver em lugares mais agradáveis do que nas avenidas de fluxo intenso. E, mesmo assim, não estariam livres da praga urbana: os fios de luz e de internet que se entrelaçam em meio aos seus galhos. Você já reparou nas copas das árvores? É tanto emaranhado de fiação com vegetação que parece um experimento científico. Mas não, é só descaso. A natureza sobrevive de teimosa.
A gente não conseguiria viver sem a presença das árvores pra amenizar o calor do concreto e o barulho das ruas. As que dão a sorte de estar em parques e praças devem ter mais alegrias. São vizinhas de canteiros de flores. Crianças brincam por perto, casais namoram (desde que não desenhem corações em seus troncos). Já as árvores que dão o azar de terem sido plantadas nas esquinas movimentadas serão obrigadas ao contorcionismo. Imitam artistas de circo nesse desumano espetáculo.
Calçada
Às vezes, a liberdade está literalmente do outro lado da rua. A calçada de lá não tem postes, e suas árvores crescem livres de obstáculos. Tenho observado isso quando fecha o semáforo. Já tentei contar quantos cabos cercam algumas azaradas, só que o sinal abre antes que eu termine. Cruzamento de espécies? Só de fios. Os lindos Ipês rosas que contornam o lago da Redenção são o que todo Ipê de Porto Alegre gostaria de ser. Nossas árvores contorcionistas nem aplausos recebem.
A paisagem urbana ficou ainda pior depois da tempestade de 16 de janeiro. Muitas árvores que caíram com os ventos seguem nas ruas, viradas em restos de galhos, troncos cortados e raízes enormes esperando o caminhão de lixo pra saírem de cena. Seus dias de contorcionismo acabaram. Os fios e cabos já foram recolocados (pra alívio de quem ficou tanto tempo sem luz e internet). E as mais de 2 mil árvores perdidas, quando serão substituídas? A gente que se vire com menos vida e sombra.