Chegou a hora de atualizar nos dicionários o verbete mexer. Você não acha que está faltando a variação “mexer no celular”, tão comum hoje em dia? Todos nós mexemos constantemente nele. E isso precisa ser registrado como parte do espírito do tempo - o Zeitgeist - que marca a época em que vivemos. Pra quem eu ligo? Aliás, quem faz os dicionários? A linguagem falada e escrita está sempre modificando, surgem novas expressões e aquilo que já conhecemos ganha outros significados.

Mexer no celular é pura contradição. A gente fica parado, hipnotizado, abduzido pela telinha. Quem mexe é o nosso dedo, digitando e rolando as notícias e o feed das redes sociais. O cérebro se mexe ao acompanhar os acontecimentos. Mas nem sempre pro bem, às vezes ele paralisa ou encolhe: é tanta bobagem disponível que não faz muito bem pra cabeça. Corpos perfeitos demais, fake news, críticos da vida alheia, juízes de internet que decidem o que é certo ou errado.

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Fuçar

Como diz o dicionário, mexer é revirar, misturar, revolver, agitar. Pensando no celular, errado não está. Fazemos isso ao fuçar os perfis dos outros. Agitamos nossos sentimentos ao ver que todo mundo parece mais feliz, mais bonito, mais rico, mais viajado e mais importante (a realidade altera). Balançamos a autoestima, o que definitivamente mexe com a gente. Mexer no celular também ajuda a solidão a não incomodar. A fila a se movimentar mais rápido. As esperas a demorarem menos.

Mais assuntos pra atualizar o verbete? Mexer no celular faz desaparecer as pessoas ao redor. Protege dos chatos no elevador. É escudo pros tímidos. Faz perder o sono. Anula costumes tradicionais como telefonar pra alguém. Rouba tempo. Dá dor no pescoço. Serve de babá (não importa a idade). Confunde trabalho e lazer. É hábito, vício e até obsessão. Mexer no celular é algo pra ser estudado a fundo. Sorte que a maioria dos dicionários agora é online. Porque faltariam páginas de papel pra definir.