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Efeitos da chuva

Tempestade transtorna a rotina de milhões de gaúchos com falta de luz, água e bloqueios viários

Porto Alegre foi uma das cidades mais afetadas pela combinação de chuva e fortes ventos

17/01/2024 - 21h07min


GZH
Matheus Pé / Especial / Agencia RBS
Árvores caíram sobre corredor de ônibus em Porto Alegre.

O temporal que sacudiu o Rio Grande do Sul na noite de terça-feira (17) provocou danos extensos em várias partes do Estado e convulsionou a rotina do maior município gaúcho. O mau tempo se abateu sobre pelo menos 49 cidades, conforme relatório da Defesa Civil estadual atualizado no final da tarde desta quarta (17), e chegou a deixar 1,1 milhão de clientes sem luz no começo da manhã. Os dados oficiais indicavam ainda 13,3 mil pessoas afetadas, 12 feridas e 109 desalojadas à tarde. Um homem morreu em Cachoeirinha.

Porto Alegre, um dos municípios mais castigados, decretou situação de emergência. A chuva torrencial e os ventos de até 89 km/h, gerados pela supercélula de tempestade alimentada por um violento choque de massas de ar quente e frio, derrubaram ao menos 250 árvores, bloquearam totalmente 84 vias e paralisaram cinco das seis estações de tratamento do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) por falta de energia. A prefeitura estima que isso resultou em falta de água para nada menos do que 1,2 milhão de pessoas — o equivalente a 90% dos moradores do município. A previsão de novas chuvaradas nas horas seguintes manteve a população e autoridades em alerta para o risco de novos prejuízos.

O impacto do aguaceiro combinado a vendaval se assemelhou ao patamar de destruição visto durante o ciclone ocorrido em 2016, quando a maior cidade do Estado foi varrida por ventos de até 119 km/h que tombaram mais de 500 árvores e também provocaram falta de luz generalizada.

O Centro Integrado de Comando de Porto Alegre (Ceic), porém, sustenta que não é possível fazer um ranking da dimensão dos fenômenos climáticos ocorridos nos últimos anos por envolverem características diferentes de formação, padrões de ventos e precipitação.

Um apelo feito via rede social pelo prefeito Sebastião Melo forneceu um indício claro sobre o nível de estrago e a dificuldade de lidar com as consequências do novo fenômeno climático. Melo pediu a doação de motosserras à população para facilitar o trabalho de seccionar e remover restos de vegetais de ruas e calçadas:

— Estou pedindo doação de telhas, motosserras. Já recebi a manifestação de várias entidades que vão ajudar.

O Comando Militar do Sul (CMS) do Exército deslocou para Porto Alegre um grupo de militares do Interior do Estado, habilitados em operar motosserras, para atuar na retirada de troncos e galhos caídos. Os militares que vão ajudar na Capital são do mesmo contingente que apoiou as prefeituras do Vale do Taquari durante as enchentes de setembro.

Os danos também atingiram de forma intensa estabelecimentos de saúde. Segundo a prefeitura, entre uma centena de postos, farmácias distritais, clínicas da família e outros serviços afetados, o Hospital São Lucas da PUC foi um dos mais comprometidos. Foram registrados destelhamentos e diversas avarias: a emergência e o Centro de Diagnóstico por Imagem foram alagados, e 10 leitos vinculados ao SUS ficaram temporariamente bloqueados. O Hospital de Pronto Socorro (HPS) também enfrentou alagamentos, na emergência e no quinto andar. O Independência e o Pronto Atendimento da Bom Jesus tiveram de remanejar pacientes devido ao excesso de chuva.

Quem precisou se deslocar pela cidade se viu em uma espécie de labirinto urbano. A EPTC relatou que 67 vias foram interrompidas por completo em razão da derrubada de árvores, 14 por quedas de postes e três por acúmulo de água. Outras 59 ruas ou avenidas ficaram parcialmente bloqueadas pelos mesmos motivos. Para piorar, 103 sinaleiras ficaram fora de operação por falta de energia.

Os 75 milímetros de chuva registrados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) em 24 horas corresponderam a quase 70% do esperado para todo o mês na Capital. A meteorologia previu que novos temporais poderiam ocorrer ainda nesta quarta-feira, principalmente na faixa centro-norte do Rio Grande do Sul. O risco se estende até a manhã de quinta-feira (18), segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Boa parte dos municípios mais afetados fica na Região Metropolitana. Em Cachoeirinha, um morador de rua morreu durante a madrugada ao ser atingido pela marquise de um supermercado durante a ventania, e pelo menos 10 pessoas ficaram feridas. Canoas registrou rajada de vento de 107 km/h na Base Aérea.

Pela manhã,  13 pontos de estradas estaduais ou federais estavam bloqueados por completo e, no meio da tarde, 689 mil clientes seguiam sem energia elétrica em todo o Estado.


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