Na passarela
Concurso elege rainhas das piscinas públicas de Porto Alegre e anima frequentadores
Escolha não envolveu apenas beleza, mas também a relação das candidatas com as unidades recreativas
No lugar de sapatos de salto alto e fino, pés descalços. Entre as roupas, biquínis e maiôs de diferentes cores e modelos. Maquiagem e acessórios, como brincos, pulseiras e colares davam o toque final à produção. Assim desfilaram as 15 participantes do concurso Rainha das Piscinas Públicas de Porto Alegre, realizado na manhã deste sábado (17). O evento animou frequentadores das unidades recreativas e reuniu torcidas no Centro de Comunidade Vila Restinga (Cecores), na zona sul da Capital.
Divididas nas categorias jovem (15 a 29 anos), adulta (30 a 59 anos) e idosa (mais de 60), as concorrentes se apresentaram aos oito jurados logo no início no concurso, por volta das 10h. Durante seus discursos, explicaram sua relação com as unidades recreativas. Entre as participantes, havia representantes de quatro dos cinco centros mantidos pela prefeitura de Porto Alegre que têm piscinas.
Após a apresentação, as 15 mulheres desfilaram individualmente pelo tapete azul marinho instalado no pátio do Cecores. Muitos aplausos e gritos de “linda”, “maravilhosa” e “já ganhou” eram ouvidos enquanto as participantes passavam pelas torcidas. Um cartaz feito em cartolina rosa, com a frase “dá-lhe miss biquíni”, foi levantado por uma das pessoas que estava na plateia.
Ao final do desfile, os jurados fizeram uma pausa para somar a pontuação de cada participante. Além da beleza, desenvoltura, simpatia e sociabilidade, um dos critérios de avaliação foi justamente a relação das concorrentes com as unidades recreativas que frequentam.
Concorrentes de todas as idades
Pouco depois das 11h, os jurados anunciaram as vencedoras do primeiro, segundo e terceiro lugar de cada categoria. Entre as idosas, a rainha escolhida é Rejane Barbosa, 65 anos, que se emocionou muito com o anúncio e ao ganhar flores e a faixa indicando o novo título.
Rejane estava representando o próprio Cecores, onde faz hidroginástica e outras atividades. Ela conta que esse foi o primeiro concurso do qual participou em toda sua vida.
— Foi uma surpresa muito grande, eu não esperava. Estou muito emocionada. Comecei a vir aqui por causa do meu filho, que me incentivou e me inscreveu para fazer exercícios, porque eu vivia em casa e não queria fazer nada — relata.
De acordo com Rejane, os filhos se casaram e foram embora de casa. Desde então, mora sozinha. Ela afirma que, antes de começar a fazer as atividades no centro, sentia muita ansiedade e tristeza. Agora, garante que se sente muito bem:
— Realmente é benéfico. No momento em que eu comecei a fazer exercícios, já senti minha autoestima lá em cima, minha depressão e minha angústia já foram diminuindo. Eu senti melhoras dentro de mim e decidi continuar. É muito bom, recomendo muito, principalmente para as pessoas que moram sozinhas, porque fiz muitos amigos aqui.
Na categoria adulta, a rainha foi Cristina Fagundes Rodrigues, 46 anos, que também representava o Cecores. A técnica de enfermagem, que atua no Hospital da Restinga, faz hidroginástica, musculação e natação no local.
Ela frequenta o centro há dois anos e destaca a importância de ter um espaço de convivência para as pessoas que moram na comunidade.
— Sou moradora daqui há 27 anos, criei meus filhos aqui e acho maravilhoso. Antes, meus filhos eram pequenos, então me dediquei à criação deles e ao trabalho. Hoje em dia, são adultos, então estou cuidando um pouco mais de mim. Foi a primeira vez que participei de um concurso, estou muito feliz. Sou muito tímida, então foi um desafio — aponta.
Entre as mais jovens, a vencedora foi Mariana Tevah, 16 anos. O concurso foi acompanhado por toda sua família, que vibrou muito durante o desfile e no momento do resultado.
— Veio todo mundo. Eu só comentei com uma ou duas pessoas, mas quando eu cheguei na festa da família no domingo, quando teve um churrasquinho, todo mundo já sabia. Disseram que iriam vir, gritar e aplaudir. E eu não impedi, porque ter torcida é muito bom — celebra.
A adolescente conta que é o primeiro concurso do tipo que participa, mas já esteve em competições de dança e de ginástica. Mariana diz que não estava confiante, mas ressalta que o clima de apoio e alegria entre as concorrentes foi reconfortante.
— No final, até esqueci que era um concurso, valeu mais pela diversão. Estou me sentindo realizada, tenho uma relação muito forte com a unidade, porque foi aqui que eu conheci a maioria dos meus amigos — comenta a jovem, que se mudou para o bairro há dois anos e, desde então, frequenta o centro.
Ideia é ir além da beleza
De acordo com a secretária municipal de Esporte, Lazer e Juventude (Smelj), Débora Garcia, houve um concurso semelhante em Porto Alegre há muitos anos, mas a ideia deste evento é que não seja focado somente na beleza, mas sim no pertencimento ao centro comunitário:
— Podemos ver que as ganhadoras pertencem ao centro, elas fazem atividades. Não é só o banho na piscina ou a hidroginástica, elas estão durante todo o ano participando do centro comunitário, então isso foi o que mais contou para nós.
Inicialmente, o concurso teria diferentes etapas, mas a baixa adesão fez com que a prefeitura mudasse para uma prova única. A ideia é que a próxima edição, no ano que vem, tenha mais etapas, com mais participantes.
— Tenho certeza que vai ter mais adesão, depois de verem o retorno que teve essa final. É muito legal ver a comunidade participando — finaliza a secretária.