Já contei que adoro ouvir frases soltas por aí. Não é bisbilhotar, é estar atenta ao que acontece ao redor. E tem o lado útil de captar material pra coluna, claro. Agora imagina a cena: eu e o Ricardo tomando café da manhã em uma pousada na Serra Gaúcha. O tipo de situação que me deixa 100% concentrada na comida. Daí chega um casal de forasteiros (sotaques diferentes sempre ligam o meu radar). Os dois sentam perto, e ele pede pra colocarem uma fatia generosa de queijo na sua omelete. 

Qualquer pessoa seguiria tomando café como se nada tivesse acontecido, se jogando na cestinha de pães. Já o meu café deu uma esfriada porque entrei no "modo devaneio": uma fatia generosa!! Me encantou esse detalhe. Como se um queijo colonial já não fosse bondoso o suficiente. Eu mastigava e pensava se o tamanho de queijo que ele esperava receber seria correspondido pela moça que anotou o pedido. Na prática, quantos gramas de generosidade? Um naco? Queijo sabor expectativas frustradas. 

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Guloso

Se já é difícil ser generoso consigo mesmo, o que dirá depender da boa vontade de alguém pra ser generoso com a gente. Generosidade pode ter significados diferentes pra cada um. Ainda mais quando é pra ser demonstrada em queijo. O cidadão seria apenas um guloso querendo forrar o estômago? Sonhou com queijo a noite inteira? Alguém acostumado a receber tratamento especial? Um homem com intolerância à lactose que resolveu chutar o balde? Ou só um chato?

Fiquei pensando nas fatias generosas que a vida oferece de bandeja, e nas que a gente tem que correr atrás. Seja de comida, de afeto, de aprendizados, de melhores oportunidades. Cortar um pedaço de queijo é fichinha. Naquele dia, horas mais tarde, estávamos sentados em outro lugar almoçando (comer, maior atração). E quem entra no restaurante? O mesmo casal. O generoso circula por tudo reconhecendo o terreno, torce o nariz, vira as costas e vai embora. Conclusão: era só um chato.