Recuperação demorada
Um mês após temporal, árvores caídas bloqueiam calçadas e se tornam pontos de acúmulo de lixo em Porto Alegre
Capital ainda sente os efeitos da tempestade que atingiu a cidade no dia 16 de janeiro
Plantada no terreno de uma escola de educação infantil, a árvore se partiu ao meio e parte da copa se debruçou sobre o muro, bloqueando a passagem de pedestres na calçada que ladeia a Rua Cruzeiro do Sul, perto da rotatória da Avenida Tronco. Além dos galhos secos, há pedaços de plástico e madeira e resíduos de papel.
Na Rua Dona Zulmira, na Cavalhada, a árvore frondosa foi arrancada pela raiz, deixando exposto um tubo de distribuição de água. Serrada em pedaços, ficou na calçada da via, sinalizada por um cavalete do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). No mesmo logradouro, o serralheiro Paulo de Lima reclama impaciente pelo recolhimento dos restos de uma figueira que ficava em frente ao galpão em que trabalha:
— Estão esperando um louco passar aí, jogar um toco de cigarro e causar um incêndio.
O cenário era semelhante da Rua Xavier Gomes, no bairro Nonoai, até a quinta-feira (15) à tarde, quando uma equipe terceirizada da prefeitura chegou para recolher a vegetação seca acumulada rente à via, que àquela altura já continha em seus meandros restos de telha e pedaços de papelão.
A 16 quilômetros dali, no bairro Sarandi, os galhos e parte do tronco de uma árvore bloqueiam a calçada e encobrem a visão de uma casa na rua Engenheiro Sadi Castro, ladeados por sacos plásticos, papéis de bala, telhas e a porta de um armário. Do outro lado da via, o restante do tronco está cortado em dois pedaços.
São alguns dos resquícios da tempestade que deixou um rastro de destruição na Capital no dia 16 de janeiro e que, indiretamente, ainda afeta a rotina de moradores e empreendedores.
Embora não haja árvores trancando ruas, há amontoados de galhos e vegetais aguardando recolhimento em calçadas, passeios, parques e praças da Capital. Não raro, o acumulado vegetal se torna também um microlixão urbano, com itens que vão de restos de telhas e plásticos usados, passando por chinelos, caliças e detritos de toda sorte que transeuntes decidem ali depositar.
Responsável por limpar a cidade, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Smsurb) diz que 85% dos trabalhos de rescaldo da tempestade já foram feitos. Na semana do temporal, o secretário Marcos Filipe Garcia estimou que a limpeza da cidade levaria pelo menos um mês. Agora, ele prevê que o recolhimento de galhos, árvores e outros resíduos se estenda até a metade de março.
A demora se explica pela extensão dos danos do temporal, que suscitou mais de cinco mil chamados de intervenção nos canais da prefeitura, sobretudo o telefone 156. Só em área pública, mais de três mil árvores foram derrubadas pelo vendaval.
Nos primeiros dias, o trabalho de recuperação se concentrou em desobstruir vias arteriais e remover árvores em contatos com residências ou que impedissem a volta da energia elétrica. Depois, o foco partiu para a desobstrução de ruas menores e, agora, as equipes trabalham no recolhimento dos vegetais em calçadas e passeios e nos parques e praças.
—Esperamos que no início da semana que vem tenhamos atendido os focos maiores. Restarão alguns pontuais, de galhos em calçadas, e depois nas praças e parques, que não são a prioridade. Todos os atendimentos já estão mapeados, mas os cidadãos sempre podem contatar o 156 para fazer os pedidos de recolhimento — diz o secretário Marcos Felipi Garcia.
Além das 65 equipes da Smsurb e do Departamento Municipal de Limpeza Urbana, a prefeitura contratou 15 turmas extras para atuar na limpeza da cidade. Nos primeiros dias, profissionais cedidos por empresas privadas e integrantes do Exército também ajudaram.
Até o momento, foram retiradas cerca de 2 mil toneladas de restos de árvores e galhos, encaminhados para a estação de transbordo da Lomba do Pinheiro. Nos casos em que há descarte irregular de resíduos, a prefeitura diz que está notificando os moradores. Caso haja aplicação de multa, a penalidade pode variar de R$ 472 a R$ 7.560.
O dia após a tempestade
Números do temporal
- 🪵 Árvores caídas: cerca de 3 mil (apenas em áreas públicas)
- 🏢 Atendimentos da prefeitura: 5 mil
- ✅ Trabalho concluído: estimativa de 85%
- 👷 Equipes trabalhando: 80 equipes, o que significa cerca de 400 pessoas
- 🗑️ Resíduos coletados: duas mil toneladas de vegetais
- ⏰ Tempo estimado para conclusão do serviço: entre 20 e 25 dias