Estelionato
Golpistas vendem pela internet produtos que não existem para extorquir compradores no RS
Ao abordar as vítimas, criminosos se passam por delegados e alegam que elas estão envolvidas em receptação de produtos roubados
Um golpe envolvendo compra e venda de eletrodomésticos pela internet tem sido aplicado por criminosos no Rio Grande do Sul. Somente neste mês de março, a delegacia de Polícia Civil de Canoas, na Região Metropolitana, registrou nove denúncias de vítimas do crime.
A ação dos golpistas consiste em ofertar produtos falsos e, após receberem o pagamento, entrar em contato com os compradores, se passando por policiais e alegando que os produtos fazem parte de um esquema de roubo. Então, tentam extorquir as vítimas ao acusá-las de envolvimento em receptação. A Polícia Civil investiga o caso.
De acordo com as autoridades, os criminosos se valem da informalidade da negociação realizada em plataforma de compra e venda para coagir as vítimas.
— O temor e o constrangimento vêm disso. Quando tu adquire algo com valor bem inferior e algo que é produto de furto ou roubo, tu pode ser responsabilizado criminalmente por receptação. Então, acho que eles se valem disso, justamente para causar esse temor na vítima — comenta Luciane Bertoletti, delegada titular da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas.
Uma vendedora moradora da cidade foi vítima do golpe. Ela conta que procurava uma geladeira usada e encontrou a oferta no marketplace do Facebook.
— Ele (o golpista) mandou as fotos e logo falou que estava vendida para mim. Me pediu o dinheiro da gasolina, calculou frete — conta a mulher.
Após transferir o valor do frete, lembra, foi contatada por um suposto delegado, que dizia que a geladeira a caminho da casa dela havia sido apreendida em uma blitz e era objeto roubado.
Ao se passarem por policiais, os golpistas apresentam às vítimas documentos falsos, com identificação e fotografia de delegados. Em uma das abordagens, o grupo utilizou dados do diretor da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do RS, delegado Mário Souza.
— É uma situação ruim. Nós temos que orientar as pessoas a fazer boletim de ocorrência e, obviamente, não acreditar. Eu não faço nenhum tipo de contato por aplicativo de mensagem, por exemplo, para tratar de investigação ou de inquérito policial — explica Souza.
Uma arquiteta de Porto Alegre também foi alvo da ação criminosa. Ela fez uma compra de geladeira e transferiu R$ 50 reais para o frete do produto. Logo em seguida, começou a ser extorquida.
As abordagens mantêm o mesmo padrão, com prática de coação e apresentação de credenciais de autoridades.
Segundo a Polícia Civil, é necessário estar atento às negociações de artigos pela internet.
— A gente sempre recomenda que a pessoa verifique qual é o perfil que está vendendo esse bem, esse objeto. Se é um perfil criado há tempo ou se é um perfil novo. E também o valor desse objeto. Às vezes, é um preço muito atrativo. E a gente tem que desconfiar — salienta a delegada Luciane.
A reportagem procurou a Meta, empresa dona do Facebook, onde está sendo aplicado o golpe, que sugere aos lesados realizar denúncias no próprio aplicativo: "Atividades que tenham como objetivo enganar, fraudar ou explorar terceiros não são permitidas em nossas plataformas e estamos sempre aprimorando a nossa tecnologia para combater atividades suspeitas. Também recomendamos que as pessoas denunciem quaisquer conteúdos que acreditem ir contra os Padrões da Comunidade do Facebook, das Diretrizes da Comunidade do Instagram e os Padrões de Publicidade da Meta através dos próprios aplicativos".