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Guilherme Jacques: "Tentando não morrer na véspera"

Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

13/03/2024 - 05h00min


Diário Gaúcho
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Agência RBS / Agência RBS
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Sou um ansioso daqueles. Que se preocupa com tudo. Que planeja mil cenários, cogita todas as hipóteses. Que, no silêncio barulhento da própria mente, vive à flor da pele cada uma das tragédias que o cérebro cria. E sigo sendo desse jeitinho ainda que a vida me mostre, repetidas vezes, que não vale sofrer tanto.

Só que a ansiedade, esse monstrengo neurótico, é também um saco sem fundo que devora cada farelinho dos nossos bons sentimentos. Já reparou? Nunca enxergamos as melhores perspectivas. É a ansiedade travestida de pessimismo. Dificilmente comemoramos alguma conquista. É ela fantasiada de menosprezo. Estamos constantemente aflitos com o dia seguinte. É, é a própria, mais uma vez, disfarçada de preocupação.

E tudo isso para quê? Agimos e nos comportamos como se fôssemos capazes de controlar o mundo. Não somos. Se tudo tiver que dar errado, vai dar. Ou adianta buscar solução de problemas que não existem? Se vencemos alguma batalha, não ganhamos nada por deixar de celebrar. Ou ganhamos? Se amanhã nada sair como o esperado, não se pode fazer mais do que lamentar. Ou resolve algo dar uma de peru e morrer na véspera?

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Já reparou que a ansiedade é tipo um Kinder Ovo? E a surpresa é sempre uma frustração. Afinal, quando foi que as teorias mirabolantes que criamos se concretizaram? Ou vejamos por outro ângulo: já notou que as maiores surpresas que acontecem são, imaginem só, surpresas? E elas nos pegam na curva, não importa o quanto nos adiantemos.

Para os dias que mais criei expectativas, fui presenteado com 24 horas da mais pura monotonia. Por outro lado, os grandes sacodes que levei vieram do nada. Acordei mal-humorado, passei um cafezinho, tomei um banho e, de repente, o inesperado deu as caras. 

Ansiedade não traz bem nenhum. O problema é falar isso para quem habita nossa cabeça dura. Ô, galerinha difícil de lidar! Mas vamos tentando não morrer na véspera. Tentando mesmo, pois já tem um pensamento aqui me atucanando para terminar esse texto, ansioso pelo que mais o dia reserva.



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