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Jovem de Cachoeirinha espera há quatro meses por cirurgia

Procedimento não pode ser realizado no hospital da cidade, por isso, Andrew depende do governo do Estado alocá-lo em uma instituição de referência

18/03/2024 - 12h33min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Arquivo pessoal / Arquivo pessoal
Devido a cisto pilonidal, Andrew sofre com dores desde novembro.

O jovem Andrew Gabriel Rocha Carvalho, 23 anos, morador do bairro Jardim do Bosque, em Cachoeirinha, espera desde dezembro pela retirada de um cisto pilonidal, localizado na região glútea. O problema é caracterizado por pelos que crescem por debaixo da pele e inflamam. Ele tem epilepsia e, devido a sequelas das convulsões, tem dificuldades para se comunicar. Por isso, precisa da ajuda da mãe, a maquiadora Kátia Rocha, 46 anos, para ir atrás do atendimento nos serviços de saúde. 

Atendimentos 

Andrew sentiu um incômodo no local do cisto quando voltava para casa depois de uma viagem, no final de novembro. No dia seguinte, acordou com dor intensa e mal conseguindo caminhar, então foi até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde o médico lhe receitou um antibiótico. Dois dias depois, porém, procurou atendimento de saúde novamente, tamanha a dor que sentia, mas dessa vez foi em uma clínica particular. A primeira opção era voltar na UPA, no entanto, chegando lá, a mãe viu que a fila estava grande e preferiu procurar outro lugar. 

Com o passar dos dias, o antibiótico passou a causar reação alérgica em Andrew. Por isso, eles foram novamente à UPA, onde o médico receitou um medicamento diferente e orientou o jovem a se consultar com um cirurgião para que fosse feita a raspagem do cisto. Kátia, então, levou Andrew ao Hospital Padre Jeremias em 4 de dezembro. Lá, segundo a mãe, ouviram que não seria possível realizar o procedimento porque o bloco cirúrgico estava fechado devido à greve de funcionários, que protestavam contra o atraso dos salários – o hospital era mantido pela Fundação Universitária de Cardiologia, que enfrenta uma crise financeira desde o ano passado. Hoje, a entidade passa por uma transição na administração. 

Além disso, ainda era preciso esperar mais alguns dias para ver se o cisto iria dilatar, para que fosse possível drenar o abscesso (acúmulo de pus). Assim, foi prescrita apenas a continuação do tratamento com antibiótico e ele foi mandado para casa. 

As queixas de dor de Andrew foram aumentando, e, dois dias depois, ele foi à instituição novamente. Dessa vez, a médica que o atendeu pôde fazer a drenagem, que aliviou o incômodo, mas com o alerta de que essa era uma conduta emergencial e que ele ainda deveria passar pela cirurgia. 

– A médica fez um corte com bisturi para a infecção começar a sair, mas disse que era preciso ele ir para um bloco cirúrgico, fazer a cirurgia com anestesista e tudo, porque tem que fazer toda a limpeza por dentro e fechar com pontos, o que ela não podia fazer ali no hospital – explica Kátia. 

Então, o encaminhamento foi passado para a Secretaria Estadual de Saúde, com o objetivo de encontrar um hospital que pudesse atender Andrew. Sem sucesso, a mãe apelou à Secretaria de Saúde de Cachoeirinha em janeiro para questionar se havia alguma previsão de retorno, mas recebeu uma resposta negativa. 

Desconforto 

Há semanas, Andrew tem dificuldades para caminhar e se sentar. Ele é funcionário do departamento de segurança do trabalho de uma empresa e, em alguns dias, teve que pedir para ser liberado e ir para casa. Caso contrário, seria preciso pedir ao médico por mais dias de atestado, o que o jovem tenta evitar para não ser afastado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Atualmente, a família conta com o salário dele para ajudar na compra dos medicamentos para epilepsia. 

Essa não é a única preocupação de Kátia. Apesar da drenagem, há risco de infecções na ferida, que está protegida apenas por curativos. 

– É um fechado superficial porque é um corte feito com bisturi, então não vai fechar sozinho, tem que levar ponto. Se ele se mexe, joga uma bola, ela (a ferida) abre e sangra de novo. Enquanto não fizer a cirurgia vai ficar abrindo e fechando sozinha – relata a mãe.

Prefeitura de Cachoeirinha acompanha o caso 

Em nota, a Secretaria de Saúde de Cachoeirinha informa que a complexidade da condição de Andrew extrapola as competências municipais e que toma as medidas cabíveis para que o paciente seja atendido pelo sistema estadual. A pasta menciona que, no dia 6 de dezembro, quando Andrew foi ao Hospital Padre Jeremias, ele “foi devidamente lançado no Sistema de Gerenciamento de Consultas (Gercon) pelo Departamento de Regulação, na especialidade de Cirurgia Geral adulto, com os prestadores pactuados pelo Estado como referência, os hospitais Viamão e Vila Nova em Porto Alegre”. 

Diz ainda que o departamento tem se empenhado no caso do jovem e enviou e-mails nos dias 30 de janeiro, 6 de fevereiro e 12 de março para a Central de Regulação Ambulatorial do governo do Estado, “solicitando a regulação do paciente e informando o agravamento de seu quadro clínico”. 

Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde informou que não se manifestaria em respeito à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O Diário Gaúcho também tentou contato com a Fundação Universitária de Cardiologia, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem.

Produção: Caroline Fraga


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