Coluna da Maga
Magali Moraes: jogos mentais
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
O jogo é o seguinte: inesperadamente você encontra alguém que sabe que conhece, mas não faz ideia de onde, e tenta lembrar seu nome. Isso se não quiser passar por mal educado, claro. A regra é sorrir e rapidamente fazer todas as conexões cerebrais possíveis pra descobrir alguma coisa. Até porque o sorriso que você deu pra disfarçar não foi nada convincente. Antes, a testa enrugou. A sobrancelha levantou. O olhar espremeu, numa tentativa desesperada de enxergar melhor.
Pois é. Ficou na cara que você não juntou um nome à pessoa. Ponto pro adversário, ainda mais se ele te cumprimentar pelo apelido. Isso seria uma boa dica, inclusive. Esses encontros geralmente acontecem fora do contexto, o que dificulta a jogada. Outro bairro, um horário diferente, um dia que não seria o usual, uma roupa que não ajuda. Pra quem se orgulha de ser um bom fisionomista, todo mundo quer ser lembrado pelo nome. Não só pelo queixo ou o uniforme de sempre na academia.
Gavetinhas
Desconfio que esses jogos mentais ficam mais sofridos depois dos 50. É que a gente já acumulou muita informação na cabeça. Nossas gavetinhas estão lotadas de tralhas, e leva um tempo pra vasculhar os pensamentos e encontrar justamente aquilo que queremos achar. Uma soma de letras, uma pista qualquer. Se a tal pessoa cruzou com você na rua e foi embora, o jogo ainda não terminou: seus neurônios seguirão fazendo sinapses até descobrir quem é. Aquilo fica martelando na mente.
Pior é se a situação te obriga a conversar um pouco com essa criatura sem nome, sem signo, sem CEP, sem time, sem CPF ou CNPJ. O tabuleiro da vida não perdoa. Chama de guri/ guria, joga no ar um queridão/ queridona, lança uma pergunta genérica pra ganhar tempo (“O pessoal tá bem?”). Se for seu dia de sorte, o jogo vira: alguma palavra faz sentido e puf! Some o bug mental. Aconteceu comigo semana passada. Na hora, deu branco. Logo depois, lembrei. Que alívio vencer essa jogada.