Descobri que estão pescando no píer do Parque do Pontal, em Porto Alegre. Você conhece esse lugar? Bonito demais. É perfeito pra turistar a cidade, fazer selfie, sentar, conversar, passear, caminhar, ver o pôr do sol, ficar de queixo caído com a beleza e a imensidão do Guaíba. Rio que é um lago com peixe. Eu nunca tinha pensado nisso. Mas tem um pessoal que pesca ali faz tempo, muito antes da obra que revitalizou tudo. Porque as águas e os peixes sempre estiveram lá.

Pra mim, pescaria é coisa de se ver nas lagoas distantes da estrada. Combina com beira de praia, plataforma, ponte Tramandaí-Imbé, que é parte da minha infância. Nas lembranças daquela época, pescar era o passatempo do meu pai e tios: eles gostavam de tarrafear no mar. Que eu saiba, nenhum dos filhos e primos herdou o gosto pela pesca. Caniços à beira-mar sempre me fizeram olhar fixamente pra cima e pros lados, em busca da linha invisível e de anzóis que podem machucar.

Leia outras colunas da Maga 

Shopping

A única pescaria urbana que eu conhecia era de festa junina. Agora sei que dá pra pescar entre um shopping e outro, olha que curioso. Se bem que esses pescadores da Capital viram as costas para os prédios. Estão de olho na calmaria que agita de repente, sinal de que um peixe fisgou a isca. Será que contam histórias de pescador? Um faz companhia pro outro enquanto nada se move na água. Detalhe: ali perto é ponto de travessia do catamarã que leva e traz da cidade de Guaíba. Faz cada marola.

Tem um lado da pescaria que me atrai: o saber esperar. Isso requer treino e perseverança. Homens e mulheres que pescam não podem ser ansiosos, apressados ou estressados. É outro ritmo. Parece entediante, mas deve ser relaxante. Acho que se conectar com a natureza é o principal. Lidar com incertezas, estar disposto ao fracasso e ao sucesso. Os que devolvem os peixes pro mar querem que o mar devolva a paz de espírito pra eles? Taí um universo desconhecido pra mim. Vamos pescar, Ricardo?