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Medicamentos devem ser reajustados em até 4,5% a partir de abril; entenda o motivo

Aumento é determinado por meio de um cálculo da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED)

13/03/2024 - 21h36min


Vinicius Coimbra
Vinicius Coimbra
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Rodrigo Philipps / Agencia RBS
Remédios têm teto de preço no Brasil.

Consumidores terão de gastar mais para comprar medicamentos a partir de abril por conta do reajuste anual do grupo de produtos no país. O aumento máximo permitido é determinado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), responsável pela regulação econômica do mercado de medicamentos no Brasil, e deve ser divulgado em 31 de março

O reajuste no preço dos medicamentos deverá ser de até 4,5% em 2024, segundo especialistas do setor e representantes da indústria, o menor desde 2019 (veja abaixo como foi a evolução dos reajustes). No ano passado, o aumento havia sido de 5,6%.

O percentual, porém, não é um aumento automático nos preços, mas uma definição de teto permitido à indústria. Desse modo, cada empresa é livre para cobrar do consumidor o reajuste total no preço do produto ou manter o valor menor, caso queira, mas nunca acima do estabelecido pela CMED. A prática é regulamentada pela lei 10.742/2003.

— É um sistema de regulação que prevê um incentivo para a indústria farmacêutica agir de maneira mais eficiente e promover progresso tecnológico. Ou seja, a empresa sabe que terá de atuar para reduzir custos se quiser ter mais lucro,  porque ela tem um teto para o preço do medicamento — explica Giácomo Balbinotto Neto, especialista em economia da saúde e professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Como é feito o cálculo

O percentual de aumento é determinado por meio de um cálculo que considera o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e outros três fatores (chamados X, Y e Z). Em janeiro, o CMED havia divulgado os parâmetros X e Y para o reajuste e o último foi revelado em fevereiro. Faltava, porém, o cálculo do IPCA entre março de 2023 e fevereiro deste ano, que foi de 4,50%.

O reajuste é obtido com a resolução do seguinte cálculo: VPP = IPCA – X + Y + Z

Veja o significado de cada um deles:

  • VPP: é a variação percentual no preço
  • IPCA: 4,50%
  • X: fator de produtividade repassado ao consumidor (0%)
  • Y: fator de ajuste de preços entre setores (0%)
  • Z: fator de ajuste de preços intrassetor (0%)

Balbinotto Neto estima o aumento em 4,5% em 2024. O valor é próximo aos 4,43% de acréscimo estimados pela SimTax, uma consultoria tributária especializada no mercado farmacêutico, divulgada em um estudo no início de março. Segundo o professor da UFRGS, a dica é comprar os produtos antes do início do próximo mês, mas ter cautela para evitar desperdícios.

— A pessoa pode criar um estoque, mas é importante ter precaução, cuidar a data de validade e não fazer uma quantidade tão grande sem levar em conta que a condição de saúde pode se modificar. Alguma alteração pode fazer o paciente não precisar mais do medicamento. Muitas farmácias também dão descontos na compra de duas caixas ou três caixas. É uma boa oportunidade nesse sentido — pontua.

Além do reajuste anual, 11 unidades da federação podem ter outro aumento de preço, relacionado ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o que preocupa a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), conforme o UOL. O Rio Grande do Sul, porém, não está entre os que tiveram elevação desse imposto.

O que diz o setor

Em resposta a GZH, o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) diz esperar reajuste máximo de 4,5%. A entidade argumenta que o setor farmacêutico é o único segmento de bens de consumo da economia brasileira submetido ao controle de preços. Por isso, apenas uma vez por ano as indústrias farmacêuticas estão autorizadas a reajustar os preços de seus produtos, para compensar os aumentos de custo de produção acumulados nos 12 meses anteriores.

Desse modo, o Sindusfarma afirma que, no "atual modelo de controle de preços de medicamentos, as empresas do setor têm notórias dificuldades para equilibrar suas contas. Na série histórica, o reajuste acumulado de preços de medicamentos está abaixo da inflação geral (IPCA)".

Segundo cálculos do sindicato, de 2014 a 2024, a inflação geral somou 77,5% ante uma variação de preços dos medicamentos de 72,7%.

— Os medicamentos têm um dos mais previsíveis e estáveis comportamentos de preço da economia brasileira. Em um ambiente altamente competitivo, a concorrência regula os preços; por isso, os produtos das classes terapêuticas com grande diversidade de marcas poderiam ser liberados do controle de preços, como já acontece com os medicamentos isentos de prescrição — diz Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindusfarma.

A reportagem tentou contato com a Abrafarma – outro representante do setor –, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.


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