SEU PROBLEMA É NOSSO
No bairro Sarandi, zona norte da Capital, comunidade convive com alagamentos
Moradores da Avenida Bernardino Silveira Amorim relatam que a via fica submersa em dias de chuva
“Um problema que afeta gerações”. É assim que a analista de planejamento Andresa Pacheco, 45 anos, descreve os alagamentos persistentes na Avenida Bernardino Silveira Amorim, no bairro Sarandi, na zona norte de Porto Alegre.
Nascida e criada no local, ela relata que seus avós estavam entre os primeiros moradores da região e sempre buscaram uma solução junto aos órgãos públicos. Depois, as reivindicações passaram a ser dos pais e, agora, são de Andresa:
– Assim como eles, eu e outros vizinhos seguimos reivindicando melhorias, é uma luta de muitos anos.
Drenagem
Na visão dos moradores, o acúmulo de água seria causado por uma deficiência na rede de drenagem pluvial da via, que dificulta o escoamento. Bastaria uma leve precipitação para transformar a avenida em um verdadeiro “rio”. O interior das residências é atingido sempre que há chuvas mais intensas. A analista conta que o nível chega a atingir a altura dos tornozelos e mostra preocupação com a possibilidade de contrair doenças:
– Eu tive uma vizinha que era idosa e teve leptospirose. Então, ficamos preocupados, já que a água que entra nas casas é muito suja.
Para tentar impedir o alagamento, a moradora construiu muros de contenção na entrada. No entanto, o alto volume de chuvas faz com que o nível ultrapasse a altura dos muros. São inúmeros os episódios em sua casa. O maior receio recai sobre os móveis, especialmente cadeiras e armários de madeira, que estragam mais a cada alagamento. Como forma de minimizar os estragos, os móveis foram colocados sobre tijolos para protegê-los do contato com a água.
– Se der uma chuvarada e estou no serviço, pelo menos os móveis estão protegidos – explica.
Além dos prejuízos materiais, os alagamentos também prejudicam a rotina profissional da leitora, que já precisou faltar ao trabalho por estar ilhada. Mesmo quando a chuva é menos intensa, ela só consegue sair calçando botas.
Trânsito
A via é um importante caminho de ligação entre Porto Alegre e Alvorada, por isso, muitos veículos costumam passar pelo trecho diariamente. Ainda que esteja submersa, alguns condutores tentam atravessá-la, resultando em danos aos veículos.
Andresa conta que, quando acontece um temporal, é comum encontrar muitas placas de identificação de carros que tentam passar pela água:
– Tenho uma vizinha que costuma reunir essas placas e expor em frente a sua casa. Assim, se o dono voltar, vai conseguir encontrar.
A comunidade tem pedido por uma solução há anos. Apenas Andresa já formalizou 42 protocolos de reclamações. Recentemente, foi iniciada uma obra de recuperação do asfalto na via, mas o principal problema, que são os alagamentos, não foi resolvido.
– Começaram a fazer a pavimentação da rua em época de eleição, mas não resolveram a questão das enchentes. Não adianta ter a rua asfaltada, se a água continua entrando dentro das nossas casas – comenta.
Bombas para retirar a água
O ferramenteiro Leandro Teixeira, 52 anos, diz que já perdeu as contas de quantas vezes sofreu com alagamentos em casa. Ele enumera eletrodomésticos e móveis que já perdeu, até mesmo o piso da residência rachou, devido à frequência de inundações ao longo dos anos.
Leandro estima que o prejuízo com móveis, reformas na residência e com o material de limpeza – usado para limpar o interior após a água invadir – chegue a R$ 20 mil durante esses 30 anos em que vive às margens da Avenida.
Dificuldades
O terreno em que mora é um pouco mais baixo que os demais, por isso, explica que a sua casa sempre é a primeira a alagar e com mais intensidade. Em dias muito chuvosos, o morador precisa contratar uma bomba de sucção para retirar a água por completo. O valor que ele paga pelo aluguel do equipamento é de R$ 150 por semana – mas só usa em urgências.
Outro desafio é o deslocamento para o trabalho, que costuma fazer de ônibus. Em frente ao local onde mora, há uma parada que costuma ficar completamente alagada, dificultando que passageiros permaneçam no local.
– Os carros passam e molham todo mundo que está na parada. Quando é caminhão, chega a fazer uma onda. Não tem como chegar seco no serviço – indigna-se.
Transtornos causados por obra irregular
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), em resposta aos questionamentos feitos pelo Diário Gaúcho, informa que o acúmulo de água na Avenida Bernardino Silveira Amorim não ocorre por problemas na drenagem, como apontaram os moradores. S
egundo o Dmae, há uma canalização irregular, que teria sido feita por um morador da região. Ela seria a causadora dos alagamentos registrados na via.
Judicial O departamento diz ainda que entrou com uma ação judicial contra o proprietário, que teria feito a obra sem autorização da prefeitura. O processo, no entanto, ainda não teria sido julgado e estaria tramitando em segredo de Justiça.
Produção: Nikelly de Souza