Atenção à saúde
Pode reutilizar a garrafinha de água descartável? Especialista explica
Condições dos recipientes são tão importantes quanto a hidratação em si
Manter-se hidratado é uma das principais recomendações feitas pela comunidade médica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que é necessário beber pelo menos 35ml de água para cada quilo por dia – uma pessoa de 80 quilos, por exemplo, deve beber cerca de 2,8 litros. Contudo, observar onde armazenamos a água para beber é tão importante quanto se hidratar.
Um dos materiais mais utilizados para esse fim é a garrafa PET. Renata Medina da Silva, bióloga e professora de microbiologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), relata que o plástico não é o recipiente ideal para o armazenamento de água por longos períodos. As garrafas descartáveis são, inclusive, piores do que as “permanentes” — aquelas com material mais resistente. O problema, segundo a especialista, começa na composição:
— Qualquer plástico tem uma chance maior de liberar compostos que podem não ser interessantes para a saúde. Pela pequena durabilidade, é muito mais fácil que as garrafas plásticas sofram danos, o que aumenta o risco de adesão de microrganismos.
Quanto tempo pode utilizar uma garrafa de plástico?
O recomendado é que as garrafas de plástico comuns, de água mineral e vendidas como descartáveis, não sejam reutilizadas. A especialista lembra que, afinal, o que é descartável deve ser efetivamente descartado. Idealmente, o recipiente seria usado apenas uma vez e depois iria para o lixo.
— Somente em uma situação em que não se tem o que fazer é melhor reutilizar a garrafa do que deixar de se hidratar. Podemos usar a mesma embalagem por até três dias, sempre higienizando — observa Renata.
Continuar trocando de garrafinha, porém, custa caro para a natureza e também para o bolso. Renata defende que o ideal é usar garrafas mais resistentes e duráveis.
— Usar toda hora e botar fora é uma temeridade para o meio ambiente.
Qual a melhor garrafinha de água usar e como higienizar
Renata explica que recipientes de vidro ou de inox tendem a ser uma opção melhor, por serem mais resistentes. Mesmo assim, ela destaca que todas as embalagens têm risco de aderência de micróbios, por mais que a condição seja mais comum no plástico. Isso exige limpeza constante.
Para a bióloga, é preciso tratar as garrafas como qualquer outra louça: não usar por mais de um dia sem lavar adequadamente. Ela aponta que a lavagem correta deve ser feita com água corrente, esponja e sabão. É necessário prestar atenção especialmente nas partes com mais curvaturas de relevo, como as tampas, além dos lugares que têm mais contato com a boca, pontos onde a sujeira costuma se concentrar.
— Também não se deve deixar a água parada por muito tempo — completa a especialista — O ideal é não passar de três horas (com líquido dentro), mesmo nas garrafas metálicas. Depois desse período, é preciso trocar o conteúdo e higienizar o recipiente, nem que seja só passar uma água, sem a esponja e o sabão.
Materiais com superfícies abrasivas, como as próprias esponjas, ajudam a “arrancar” a sujeira. A água quente, muitas vezes aliada das limpezas pesadas, pode não ser a melhor escolha, dependendo do material da garrafa. Altas temperaturas aumentam o risco de rachaduras e outros danos, que criam o espaço ideal para a reprodução dos germes.
Segundo Renata, aquecer o material plástico também pode liberar produtos químicos que fazem mal à saúde. O mesmo pode acontecer com o vidro e o metal, mas em menor escala. A bióloga frisa que só se deve elevar a temperatura dentro das garrafas e outras embalagens quando o fabricante especificar que o processo é seguro.
Garrafas de água transparentes
Garrafas transparentes, independentemente do seu material, permitem que se enxergue a água de dentro. Um risco deste tipo de recipiente é o seu contato com a luz. Algumas espécies que podem se alojar na água fazem fotossíntese.
— Encontramos microrganismos em todos os lugares: na boca, no ambiente, nos pets, que podem acabar entrando em contato com a água da garrafa — explica a bióloga — Às vezes, algumas microalgas (microrganismos que fazem fotossíntese) presentes naturalmente na água, em contato com a luz por muito tempo, podem também se reproduzir.
Por mais que isso possa ajudar a ver a condição do líquido e reparar em eventuais mudanças na coloração ou no estado do líquido, Renata faz um alerta:
— Quando enxergamos alguma coisa na garrafa, como mofo, é porque a água já passou do ponto há muito tempo.
5 dicas pontuais sobre as garrafinhas de água
- Evite garrafas plásticas descartáveis
- Garrafas com material plástico mais resistente podem ser opção, mas não são ideais
- As garrafas indicadas para armazenar água são as de vidro e aço inox
- Lave a garrafa se o recipiente estiver com água armazenada por mais de três horas
- Lave dirariamente a garrafa com água e sabão
Quanta água beber por dia
Riscos para a saúde
Qualquer embalagem pode servir de casa para algas, fungos e bactérias se não for higienizada corretamente. Compartilhar os recipientes com diferentes pessoas também aumenta o contágio dos germes, especialmente se alguém estiver doente. No caso das garrafas, metais e vidros são mais seguros que plásticos.
— O plástico funciona como se fosse um ímã para essas espécies, independentemente do tipo — explica Renata.
Em caso de contaminação, os sintomas costumam se restringir a desconfortos ou infecções no trato gastrointestinal. A bióloga assegura que, na maioria das vezes, não há evolução para doenças mais graves. Crianças, idosos e pessoas imunossuprimidas, que tendem a ser mais sensíveis, precisam tomar um cuidado ainda maior com as garrafas de água que utilizam no dia a dia para se hidratar, uma vez que elas podem ser o lar para microorganismos capazes de transmitirem doenças ou provocarem desconfortos estomacais. Portanto, é fundamental não só ingerir a quantia adequada de água diariamente, mas também saber onde reservá-la adequadamente.
*Produção: Caroline Guarnieri