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Nesta segunda-feira

Entenda o que ocorreu em hospitais do RS, que tiveram greves, troca de gestão e suspensão de atendimentos

Situações foram registradas em hospitais de Alvorada, Cachoeirinha e Tramandaí  

01/04/2024 - 21h46min


Vinicius Coimbra
Vinicius Coimbra
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Troca de gestão, greves e suspensão de atendimentos fizeram parte da rotina de hospitais na Região Metropolitana e Litoral Norte, nesta segunda-feira (1º). Uma nova administradora assumiu a gestão do Hospital de Alvorada, processo que foi conturbado na troca de turno e teve reclamações pelo não pagamento de rescisões trabalhistas. Uma paralisação de atendimentos ocorreu durante o dia, mas a situação foi normalizada no fim da tarde.

No Hospital Padre Jeremias, em Cachoeirinha, teve início uma greve comandada por sindicatos da área da saúde, que restringiu o atendimento para casos graves. A exemplo do Hospital de Alvorada, o Padre Jeremias deixará de ser administrado pela Fundação Universitária de Cardiologia (FUC) na próxima semana. A greve, que não tem data para terminar, também está relacionada ao não pagamento de trabalhadores que serão desligados.

No Hospital Tramandaí foram suspensos os atendimentos no Centro Obstétrico e Serviço de Obstetrícia devido ao fim do contrato de uma empresa terceirizada. Também houve paralisação da equipe médica da instituição em razão das más condições de trabalho e escassez de recursos, na avaliação dos profissionais. Entenda o que aconteceu em cada um dos hospitais:

Hospital de Alvorada: sob nova gestão

Nesta segunda-feira, a Associação Beneficente João Paulo II, do Recife, assumiu o Hospital de Alvorada, que estava havia 25 anos sob responsabilidade da Fundação Universitária de Cardiologia. A mudança foi acompanhada por protestos de trabalhadores que reclamaram do não pagamento de verbas rescisórias e devido à falta de profissionais para passar o plantão.

Ronaldo Bernardi / Agência RBS
Antigos trabalhadores reivindicam a falta de pagamentos e de novos profissionais.

A nova empresa estava aqui para assumir, porém não com a equipe completa e acabou dando um transtorno. Eles estavam com efetivo menor. Um colega ficou lá dentro para dar um apoio em setores que eles não conseguiram efetivo — contou o vigilante Eduardo Silva, que está de saída do hospital.

Em entrevista à Rádio Gaúcha, o diretor-presidente da associação, Pedro Paraíso, disse que foi necessário uma equipe de contingência para fazer a transição.

— A partir da meia-noite (de segunda-feira), houve uma movimentação de muitos trabalhadores da FUC abandonando os postos de trabalho, alegando que estavam com os seus contratos rescindidos em 31 de março de 2024. Nessa perspectiva, foi encontrada uma equipe de contingência para poder garantir, e essa era a nossa única preocupação, a continuidade da assistência dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital Alvorada — relatou.

Segundo o Sindisaúde, no centro de saúde, durante o dia, os atendimentos foram restritos a casos graves; a mobilização, porém, terminou no fim da tarde.

Por meio de nota, a Secretaria Estadual da Saúde informou que a rotina de atendimento foi normalizada durante o dia. Além da equipe administrativa, 10 enfermeiros e 26 técnicos de enfermagem atuam na casa de saúde. O problema na troca de turno ocorreu porque “quando os profissionais começaram a deixar os postos de trabalho a partir da meia-noite, os profissionais da nova gestora foram impedidos, por sindicalistas, de ingressar no hospital, o que culminou na necessidade de chamar a Brigada Militar”, diz o texto enviado à reportagem.

A mudança de gestão, promovida pelo governo do Estado, foi motivada “por dificuldades de prestação de assistência em saúde para a população”. Segundo a nota, a Fundação Universitária de Cardiologia enviou as cartas de demissões dos profissionais na quinta-feira (28), o que inviabilizou a contratação de parte do contingente pela João Paulo II, uma das explicações para o transtorno na troca de gestão.

O Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RS) afirmou que acionará o Ministério Público (MP) por conta da situação do Hospital de Alvorada. Segundo a entidade, após uma inspeção no centro de saúde, integrantes do conselho observaram falta de profissionais, pacientes sem assistência e ausência de escalas para os trabalhadores. Também há críticas à troca de gestão.

Greve em Cachoeirinha

Guilherme Milman / Agencia RBS
Greve em Cachoeirinha começou no início da manhã; paralisação não tem data para terminar, segundo sindicatos.

Os atendimentos no Hospital Padre Jeremias, em Cachoeirinha, foram restringidos por conta de uma greve de parte dos funcionários iniciada nesta segunda-feira. O grupo alega falta de pagamentos da administradora, a Fundação Universitária de Cardiologia, na troca de gestão.

Segundo o Sindisaúde, os atendimentos foram mantidos apenas para pacientes classificados na categoria vermelha, ou seja, quando há risco de morte. Os demais casos são orientados a buscar assistência em outros hospitais ou Unidades de Pronto Atendimento (UPA). A paralisação não tem prazo para terminar, segundo o sindicato.

A FUC confirmou à reportagem que os sindicatos seguiram o compromisso de manter o atendimento aos pacientes internados e para as situações de urgência e emergência.

Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, a previsão é que o Hospital Ana Nery, de Santa Cruz do Sul, assuma o Padre Jeremias na próxima segunda-feira (8). A dificuldade financeira está relacionada aos colaboradores que serão demitidos por conta da troca de comando, situação semelhante ao que ocorreu com o Hospital de Alvorada. A Fundação Universitária de Cardiologia disse não ter recursos para pagar as rescisões.

— As folhas de pagamento de março serão pagas no dia 5, dia do vencimento. As verbas rescisórias importam na faixa de R$ 41 milhões dos dois hospitais (de Alvorada e de Cachoeirinha). A FUC não tem recursos para isso, como era sabido pelo Estado e pelos sindicatos — afirmou Oswaldo Luis Balparda, superintendente-executivo da FUC, em entrevista à Rádio Gaúcha.

Suspensão de atendimento no Litoral Norte

Jeferson Ageitos / RBS TV
Contrato com a empresa terceirizada que atendia o setor de obstetrícia venceu no fim de semana passada.

O atendimento no Centro Obstétrico e no Serviço de Obstetrícia do Hospital Tramandaí, no Litoral Norte, foram suspensos por tempo indeterminado nesta segunda-feira. A decisão ocorreu porque a instituição tinha o setor de maternidade e obstetrícia gerido por empresa terceirizada até semana passada, quando venceu o contrato de prestação de serviço. 

O atendimento à população para as demais especialidades segue normal, o que também inclui a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. A Fundação Hospitalar Getúlio Vargas (FHGV), que administra o hospital, diz que trabalha para fechar um novo acordo e reabrir os atendimento; não há, porém, uma data para a celebração da nova parceria.

Somado a isso, médicos entraram em greve nesta segunda sob a justificativa de más condições de trabalho e escassez de recursos. Nesta segunda, a FHGV teve uma reunião com o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) e 18ª Coordenadoria Regional de Saúde para discutir a situação. Conforme o sindicato, a fundação apresentou aos médicos a mesma proposta da quinta-feira (28) passada em que oferecem pagamento adiantado de 20 dias de plantão, além de quitar dívida de um mês de trabalho que se arrasta desde julho de 2023.

Conforme a coordenadoria, um plano de contingência foi montado para atender a demanda das gestantes da região. Nos casos de urgência e emergência que chegarem ao hospital, por exemplo, a equipe de médicos clínicos e de enfermagem avaliará a paciente e encaminhará para atendimento obstétrico no Hospital São Vicente de Paulo, em Osório – local a 23 quilômetros de distância. Já casos considerados complexos, como parto e internação de alto risco, serão encaminhados para instituições geridas pelo sistema de Gerenciamento de Internações Hospitalares (Gerint) do Estado.

Na sexta-feira (29), a Justiça concedeu liminar, determinando que o Estado e o município de Tramandaí enviem recursos suficientes para garantir o funcionamento da Emergência e da Maternidade do Hospital Tramandaí. A ação atende a pedido do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS). O procurador-geral de Tramandaí, Luciano Reuter, afirmou que o município recorrerá da decisão por entender que o hospital não pertence a Tramandaí.


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