Coluna da Maga
Magali Moraes: viver o bairro
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Caminhar alguns metros e comprar pão quentinho. Sentar numa mesa de rua e pedir um café. Dar a volta na quadra e descobrir uma loja nova. Atravessar e ir na feira. Seguir adiante e ter um supermercado. Para o lado que for, achar fruteiras e mercadinhos bem abastecidos. Açougue também. Contei da churrascaria, borracharia, posto de gasolina, confeitaria, sorveteria e farmácias? Tudo à mão. Inclusive uma pista de caminhada. A poucas quadras, ter como vizinho um cartão postal da cidade.
Viver o bairro é resolver a vida bem pertinho de casa. E mais: se sentir parte daquele lugar. Tem sujeira nas calçadas? Infelizmente. Já foi menos perigoso? Sim. Melhor estar atento (como sempre). Aproveita e fica atento às árvores, às casas que ainda insistem em ter jardim e portão em vez de tapume e obra. Observa os prédios antigos que parecem de outra época. Encontra os rostos familiares. A gente acaba reconhecendo outros moradores sem saber quais são os seus nomes.
Relação
Eu moro no mesmo bairro há muito tempo, ele me abraçou em diferentes fases. Acho que amadurecemos a nossa relação. Tento não ser tão exigente e não cobrar perfeição (nem dele, nem de mim). Nossas histórias se confundem, temos tantas memórias em comum. Eu cruzo a cidade e volto. Eu saio da cidade e retorno. Me acostumei com os seus barulhos, a muvuca, a vista da janela, a posição do sol. Aprendi a ler no céu quando vem chuva. Me acostumei com o vento que uiva.
Feliz de quem se sente em casa no seu bairro, seja onde for. Hoje tenho dois domicílios, me divido lá e cá. Aprendi a conviver com mundos diferentes. Ter roupas e remédios em dois lugares. Ficar até dar vontade de ir embora, ter pra onde voltar. Quero turistar a cidade, quero ver o mar. Faço comparações, faço planos, confundo as camas e o que tem nas geladeiras. Viver o bairro, seja um ou dois, seja novo ou antigo, é repetir trajetos, criar manias, acostumar o olhar, se misturar ao lugar.