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Direto da Redação

Michele Vaz Pradella: "Como combater o capacitismo"

Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

17/04/2024 - 05h00min

Atualizada em: 18/04/2024 - 11h12min


Michele Vaz Pradella
Michele Vaz Pradella
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Agência RBS / Agência RBS
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Toda pessoa com deficiência já passou por situações que podemos definir como capacitismo. Por exemplo, uma situação que vivi um tempo atrás: eu estava embarcando para minhas tão sonhadas férias, quando a moça da companhia aérea começou a fazer perguntas para minha mãe: “posso ver o documento dela? Posso empurrar ela?”. Irritada, respondi: “ela fala!”. Ignorar o PCD e se dirigir apenas ao acompanhante é uma das piores formas de capacitismo.

Ao ver uma pessoa com deficiência estudando, trabalhando, praticando esportes ou outras atividades “normais”, você já pensou: “nossa, que guerreira?” Já falou que fulano é um “exemplo de superação”? Usou expressões como “dar uma de joão sem braço”, “tá cego?”, “que mancada”, entre outras? Lamento informar, mas em todos esses casos, você está sendo capacitista.

A opressão, a dúvida a respeito das capacidades dos PCDs sempre existiram, mas desde 2015, aqui no Brasil, começou a ser usado o termo capacitismo. Não se sinta mal se você nunca ouviu falar disso, eu mesma até pouco tempo atrás, mal sabia explicar do que se tratava. Tudo o que não é falado, ensinado, discutido, vira tabu e só aumenta a ignorância a respeito. Por isso, a obra “Manual Anticapacitista” (Jandaíra, R$ 57,83) é de suma importância.

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O livro de Billy Saga e Carolina Ignarra conta com depoimentos de alguns profissionais com deficiência, ativistas da causa, que tentam trazer à discussão os principais tipos de preconceito sofridos por quem foge aos padrões impostos pela sociedade. Apesar de sermos uma parcela considerável da população brasileira – quase 10% – somos invisibilizados e subestimados em nossas vivências. A obra destaca que lidar com pessoas com deficiência sempre foi um problema na sociedade: “Desde pequenos, somos ensinados por nossas famílias que não podemos falar sobre as pessoas com deficiência, sequer ficar olhando para elas”. 

Já vi algumas vezes mães puxando as crianças pela mão e dizendo “não olha, ela é doente”. Doente é a sociedade que não inclui, que esconde, que não orienta as novas gerações a conviverem com as diferenças. Felizmente, muita coisa vem mudando nos últimos anos. Costumo dizer que estamos “dominando o mundo”, mas, na verdade, estamos mesmo é levando a vida como qualquer pessoa dita “normal”: estudando, trabalhando, passeando... Mas ainda falta muito, principalmente no que condiz às barreiras arquitetônicas das grandes cidades. Sim, porque não adianta vencer o preconceito e esbarrar no degrau de uma calçada.


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