Em reunião com o Ministério da Saúde na manhã desta segunda-feira (29), a epidemiologista Tani Ranieri, coordenadora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Estado (Cevs), da Secretaria Estadual da Saúde (SES), questionará quais foram os critérios considerados pelo governo federal para eleger os municípios gaúchos contemplados com a primeira remessa de vacinas contra a dengue. O lote com 126 mil doses da Qdenga está previsto para chegar a Porto Alegre na terça-feira (30). 

Foi definido que a primeira região contemplada é a Região 10, que abrange Porto Alegre, Alvorada, Cachoeirinha, Glorinha, Gravataí e Viamão. Entre os seis municípios, há alguns com ínfimo número de casos, como Glorinha, cuja população é estimada em 7,6 mil pessoas e onde havia seis confirmações para a dengue na tarde deste domingo (28), segundo painel da SES. 

— O Ministério da Saúde pegou todos os municípios da Região 10, mas Glorinha é um município onde a incidência é baixíssima. Além do mais, por que só esses municípios, se temos vários outros com situação preocupante? O ideal seria que a gente pudesse ter tido um diálogo antes de o Ministério da Saúde ter decidido os contemplados — afirma Tani.

Com experiência em definir estratégias de ampla vacinação desde a pandemia de covid-19, Tani diz que elaborou um relatório com os municípios gaúchos que deveriam ser atendidos com urgência pela imunização contra a dengue. O documento foi entregue à secretária de Saúde Arita Bergmann. 

Cidades em que a dengue já causou mortes neste ano, como Novo Hamburgo, com 11 óbitos pela doença e cerca de 7,8 mil casos confirmados, criticaram a escolha do Ministério da Saúde. Fátima Daudt, prefeita do município no Vale do Sinos, emitiu uma nota dizendo que o raciocínio da pasta para a definição dos contemplados não ficou claro.

"Faz mais sentido disponibilizar a vacina onde ela é mais necessária, ou seja, onde há registro de mais casos e óbitos e, portanto, onde poderá salvar mais vidas. O Ministério da Saúde precisa urgentemente reavaliar seus critérios de distribuição das doses", argumenta a prefeita. 

Outro município do Vale do Sinos com alta incidência de dengue, São Leopoldo decidiu entrar com um pedido para que o Ministério da Saúde contemple a cidade na próxima remessa. Já são 15 óbitos e 8,5 mil casos confirmados da doença. 

"Achei estranho esse anúncio da vacinação sem incluir a nossa população, diante dos números graves que temos da dengue na cidade. Já estamos encaminhando um pedido ao Ministério para incluir São Leopoldo na próxima etapa", escreveu em nota o prefeito Ary Vanazzi.

Faixa etária da vacinação

Marcado para as 10h de segunda-feira, o encontro virtual com o Ministério da Saúde também servirá para determinar oficialmente qual faixa etária será atendida inicialmente com a Qdenga. A orientação geral do governo federal é que os primeiros da fila sejam adolescentes entre 10 e 14 anos.

— Acredito que, como aconteceu com outros Estados, a indicação será para jovens de 10 a 14 anos. De qualquer forma, precisamos ouvir o Ministério da Saúde para entender todos os critérios. E também gostaria de discutir a possibilidade de ampliar a lista de municípios contemplados — adianta Tani.

Todas as 126.132 unidades de vacinas contra a dengue que chegarem ao Rio Grande do Sul serão usadas para aplicação da primeira dose do imunizante Qdenga, produzido pelo laboratório Takeda. Três meses depois, deverá ser feita a segunda aplicação, mas com uma nova remessa enviada pelo governo federal. 

Segundo Tani, o ideal para a vacinação contra a dengue seria utilizar um imunizante aprovado para pessoas acima dos 60 anos, as mais vulneráveis a hospitalizações. A Qdenga, no entanto, só foi testada em pessoas entre quatro e 60 anos. Mas é um imunizante capaz de proteger até mesmo quem ainda não foi infectado, diferentemente da Dengvaxia, que só tem eficácia para quem contraiu algum sorotipo da doença.  

— A Qdenga é uma vacina quadrivalente, que protege contra os quatro tipos de vírus da dengue, mas com proteção bem mais alta contra o vírus um e o dois — acrescenta Tani.

Situação epidemiológica nas cidades que receberão doses da vacina contra dengue*

• Alvorada: 469 casos e um óbito
• Cachoeirinha: 1.286 casos e um óbito
• Gravataí: 203 casos  e um óbito
• Viamão: 185 casos e nenhum óbito
• Porto Alegre: 1.012 casos e dois óbitos
• Glorinha: seis casos e nenhum óbito

*Dados do painel da Secretaria Estadual da Saúde, atualizados neste domingo (28).