Notícias



Recomeço

Sete meses após enchentes, famílias recebem casas no Vale do Taquari: "É uma vida nova"

Iniciativa do Sinduscon-RS entregou 28 residências temporárias em Arroio do Meio

20/04/2024 - 19h01min


Fábio Schaffner
Fábio Schaffner
Enviar E-mail

Kelly Horbach passou por cinco abrigos públicos após ter a casa devastada pela enchente do Rio Taquari, em setembro do ano passado. Marta Clarice da Silva perdeu todos os pertences na mesma enxurrada, e de novo dois meses depois, quando a água invadiu a entidade onde ela estava alojada. Agora, as duas mulheres estão de casa nova, em um residencial erguido em Arroio do Meio, no Vale do Taquari.

As chaves de 28 unidades foram entregues nesta sexta-feira (19), em solenidade com a presença do vice-governador Gabriel Souza. Os módulos foram concebidos, custeados e construídos pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do RS (Sinduscon-RS), com intermediação do governo do Estado e infraestrutura urbana cedida pela prefeitura.

— Nada melhor do que a gente ter o próprio canto. Já fico me imaginando na minha casa. É uma vida nova — anima-se Kelly.

Aos 30 anos, ela tem perambulado por abrigos do município ao lado do marido, Marcelo, e do filho Micael, de três anos. Depois que o Rio Taquari inundou a faixa sul de Arroio do Meio, destruindo cerca de 300 casas, ela perdeu o emprego, o patrimônio e boa parte da auto-estima. Já morou em ginásios, em barracas do Exército e atualmente está instalada em uma sala da Creche Atalaia, onde convive com 37 pessoas de outras 12 famílias desalojadas. Além da parca estrutura, o ambiente amanhece todos os dias com o chão alagado em função da insistente infiltração no teto.

Tão logo participou da solenidade de entregas das chaves, Kelly assinaria a papelada e daria início à mudança para o novo endereço. No residencial, vai morar ao lado de uma amiga, da mãe e do pai, que são separados, em um módulo de quatro unidades.

— Aqui (no abrigo) me dá muita ansiedade. Não consigo ficar muito tempo aqui dentro. Lá é apertado, mas vai ser mais tranquilo. Agora, o próximo passo é arranjar trabalho — suspira Kelly, desempregada desde a enchente.

Com 21 metros quadrados, cada imóvel tem uma peça e um banheiro, com uma pequena varanda na área externa. Devido à limitação do espaço, grupos familiares com mais de três pessoas receberão duas unidades. Dessa forma, 22 famílias serão instaladas nas 28 casas de Arroio do Meio, esvaziando os abrigos públicos da cidade. O residencial foi construído no bairro Novo Horizonte, a cinco quilômetros do centro e dotado de creche, escola e posto de saúde.

Segundo o presidente do Sinduscon-RS, Claudio Teitelbaum, a iniciativa surgiu após uma comoção geral dos membros da entidade com a destruição provocada pelas enchentes de setembro. Inspirados em iniciativa conduzida durante inundação no litoral de São Paulo dois meses antes, os empresários projetaram as unidades e arrecadaram R$ 8 milhões em doações de associados e fornecedores. A mão de obra foi fornecida sem custo por construtoras gaúchas.

"Vamos ter um banheiro próprio e uma pia"

Aos 56 anos, Marta Clarice está ressabiada após passar por duas enchentes em sete meses, com a perda total de todos os móveis em ambas as ocasiões. Morando numa sala da antiga Associação de Menores de Arroio do Meio com o marido, Luís Carlos, e a filha Rosane, 33, a cuidadora de idosos passou os últimos dias acomodando em caixas tudo que reconquistou. Marta sabe que nem tudo caberá na nova casa, mas está feliz em ter um espaço próprio enquanto aguarda por uma residência definitiva.

— Metade das coisas vou ter que deixar aqui no abrigo por enquanto, mas lá vai ser melhor. Vamos ter um banheiro próprio e uma pia. Aqui é tudo coletivo — afirma.

Marta é uma das selecionadas para o Minha Casa Minha Vida Calamidades. Idealizado pelo governo federal, o programa terá 212 residências distribuídas em cinco condomínios em Arroio do Meio. Segundo o prefeito Danilo Bruxel, a expectativa é de entrega dos imóveis em 2025. Outras 42 casas definitivas serão construídas pelo governo do Estado. Atualmente, 200 famílias recebem aluguel social no município.

— Primeiro, teremos essas casinhas temporárias para solucionar a vida de quem ainda está nos abrigos do município. Com a transferência, todos ficarão melhor acomodados e, se Deus quiser, em breve estarão numa casa definitiva — diz Bruxel.

De acordo com o secretário estadual de Habitação, Carlos Gomes, as 42 casas deverão ser entregues até o final do ano. Já os condomínios do Minha Casa Minha Vida levam dois anos para ficar prontos.

Além das 28 casas de Arroio do Meio, outras 20 estão sendo finalizadas pelo Sinduscon-RS no município vizinho de Roca Sales. Serão 18 módulos de 21 metros quadros, um de 42 e outro de 63 metros quadrados. Problemas na construção das fossas atrasaram a obra, que deverão se concluídas em 15 dias. Das 20 famílias beneficiadas, quatro ainda estavam alojadas em um ginásio do município.

Segundo o chefe de engenharia da prefeitura, Jonas Haefliger, Roca Sales teve 198 casas destruídas durante as enchentes de setembro e 132 removidas de áreas de risco. Além das 20 residências temporárias, a prefeitura está providenciando 30 definitivas e foi contemplada com 50 unidades do Minha Casa Minha Vida Calamidades.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias