Zona Norte
Sobreviventes de incêndio relatam insegurança após ida para outra unidade da Pousada Garoa
Reportagem conversou com duas pessoas que escaparam ilesas do sinistro que resultou em 10 mortes na Capital. Elas estão em alojamento na Avenida Benjamin Constant, no bairro São João
Moradores que escaparam ilesos do incêndio na Pousada Garoa, em Porto Alegre, relatam insegurança nas novas moradias. O grupo foi transferido para outros imóveis da rede depois que um sinistro deixou 10 mortos e 15 feridos na madrugada de sexta-feira (26), na Avenida Farrapos, no bairro Floresta.
Os locais têm pouca iluminação, estão mal conservados, têm fiação exposta e faltam extintores, eles afirmam. Na tarde deste sábado (27), GZH esteve em alojamentos localizados na Avenida Benjamin Constant, no bairro São João, zona norte de Porto Alegre.
Os pontos ficam próximos à matriz da Pousada Garoa, localizada no número 423 da mesma avenida, que estava fechada quando a reportagem esteve no local. A empresa aluga prédios antes destinados ao comércio e os converte em pousadas. A empresa tinha convênio com a prefeitura de Porto Alegre, que encaminhava aos locais pessoas em situação de vulnerabilidade.
Luiz Henrique Fontoura de Santos, 24 anos, chegou ao novo endereço na manhã de sexta-feira, com a esposa e dois cachorros. Ele morava havia nove meses no prédio atingido pelo incêndio.
— Conhecia quase todas as pessoas (que morreram). Não consegui dormir depois disso: me vinha a cena, estalos do fogo, pessoas gritando, toda vez que eu tentava cochilar. Foi um choque grande pra mim — comenta o jovem, que trabalha com serviços gerais.
O fogo não atingiu o quarto onde Luiz Henrique morava e ele retirou todos os pertences no mesmo dia da ocorrência. O jovem disse receber um auxílio financeiro para moradia – chamado de voucher – da prefeitura de Porto Alegre.
O local para onde foi transferido é um imóvel antes destinado para escritórios. Divisórias de madeira fazem a função de parede entre os dormitórios. As janelas ficam ao fundo do edifício e próximo a uma cozinha coletiva. Os quartos são estreitos, com espaço para uma cama de solteiro e não pouco iluminados. Luiz Henrique relatou que a má conservação era similar ao prédio destruído pelo fogo:
— Vamos embora para um lugar que tenha segurança. Não vou botar em jogo a vida da minha mulher e dos meus cachorros de novo. Não queremos saber da Pousada Garoa.
Segundo incêndio
Jair Matos Menezes, 30 anos, morava desde fevereiro na unidade da Pousada Garoa do bairro Floresta. Em 2022, ele estava no imóvel que foi também atingido por um sinistro, que resultou em uma morte e deixou 11 pessoas feridas.
O quarto da nova moradia na Avenida Benjamin Constant não tem janelas, ventiladores e os fios de energia elétrica estavam desorganizados.
— É um pouco difícil até se acostumar. Na outra (pousada) também era assim, não tinha janela, não tinha nada também — resumiu o jovem.
Jair relatou receber o voucher da prefeitura e que pretende ficar na unidade. Porém, admitiu sentir insegurança no caso da ocorrência de um sinistro no novo quarto.
— Seria mais difícil sair se fosse um incêndio aqui — compara.
O que diz a prefeitura
Segundo a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), pessoas atendidas na rede socioassistencial foram para outras unidades, ainda na madrugada de sexta-feira (26), durante o incêndio. Desde a manhã de sexta, a equipe da Fasc encaminhou três moradores para acolhimento institucional em abrigos, outros retornaram para família de origem. Houve quatro óbitos, que receberam cerimônia de sepultamento. O município definiu que não serão mais concedidos voucher pousada até o final das vistorias.
O que diz a Pousada Garoa
Na sexta-feira, André Luís Kologeski da Silva, gestor do estabelecimento, afirmou que a empresa possui “todas as documentações que a legislação exige”. Neste sábado, ele respondeu o seguinte sobre o destino dos moradores que saíram ilesos do incêndio:
— Foram hospedadas em outras unidades da rede e levadas pela própria pousada no mesmo dia. Todas foram hospedadas conforme o endereço que desejassem ir.
No fim da tarde, a empresa enviou esta nota pública:
É com tristeza que nos manifestamos sobre o fato ocorrido em uma de nossas filiais, o qual resultou em fatalidades, por razões ainda sob investigação. Estamos colaborando plenamente com as autoridades competentes para esclarecer os detalhes deste acontecimento. A segurança de nossos hóspedes e colaboradores são nossa prioridade.
Nosso total empenho em fornecer todo o apoio necessário perante as pessoas. Além disso, continuamos nosso trabalho de assistência à população de rua, reforçando nosso compromisso social. Agradecemos a compreensão de todos e reiteramos nosso compromisso com as pessoas e a segurança em nossa pousada.