Região Metropolitana
Arroio transborda e água invade casas em Esteio
Força-tarefa entre poder público e comunidade foi organizada para resgatar as pessoas que ficaram ilhadas
O grande volume de chuva registrado desde o fim de semana já impacta a vida de muitas famílias em Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre. Dezenas de moradias foram atingidas pela água de um arroio que transbordou na área central da cidade.
Dois abrigos públicos foram colocados à disposição da população, nesta terça-feira (30), nas escolas Eva Karnal Johann, no bairro Liberdade, e Maria Marques, no bairro Três Marias. A prefeitura não divulgou, até a publicação desta matéria, relação de pessoas desabrigadas e desalojadas.
No bairro São Sebastião, uma força-tarefa foi organizada às pressas para resgatar quem ficou ilhado. Uma retroescavadeira foi utilizada para retirar pessoas, roupas e animais de estimação de áreas de risco ou já completamente inundadas.
Dona Carolina mora no mesmo endereço desde criança. A idosa já perdeu as contas de quantas vezes precisou sair de casa por causa de uma enchente. E o sentimento acaba sendo sempre o mesmo: tristeza.
— Amo a minha morada que tanto orei, tanto chorei pra conseguir — lamenta a senhora, que foi transportada por servidores da Guarda Municipal de Esteio com auxílio de um barco.
"Chega de passar por isso"
Quem vive na região já sabe do risco iminente de inundação quando há previsão de muita chuva. Jéssica Peter da Silva, 32 anos, vive com cerca de 10 familiares próximo ao arroio. Segundo ela, o drama já faz parte da rotina.
— A minha casa está cheia d’água, debaixo d’água literalmente. Só deu pra salvar as roupas — relatou Jéssica.
Questionada sobre o futuro da família depois de mais uma enchente, não pensou duas vezes antes de responder:
— Agora nós vamos sair. Já era. Chega de passar por isso.
Quem também pensa em se mudar, mas ainda não conseguiu seguir em frente com essa intenção é Ilca Teresinha Bock Strassburger. Ela não só mora próximo ao arroio como também tem uma empresa de refrigeração, consertando máquinas de lavar e ar-condicionado, ao lado de casa.
Na cheia de junho do ano passado, o negócio somou aproximadamente R$ 50 mil de prejuízo, segundo ela.
— O pátio aqui do lado está cheio de coisa estragada, porque eu tive que ficar com o que estragou e reembolsar os clientes da última vez. Hoje, nós fomos lá em cima, alugamos ligeiro uma peça, carregamos uma camionete e levamos os equipamentos dos clientes pra lá. Senão a gente perderia mais de R$ 50 mil de novo — comenta.
A mulher relatou que não conseguiu dormir na última noite, passou mal e até teve sangramentos no nariz por causa da pressão alta. Ela admite que tem vontade de deixar o lugar onde mora, mas afirma que é algo bem difícil de fazer:
— Eu penso em sair daqui, mas como a gente vendeu tudo que tinha, casa na praia, sítio, tudo e investiu aqui... não temos como fazer. E aí tu precisa vender. Vai enganar os outros, que não tem enchente aqui? Tem que dizer a verdade, né?