No início do mês, logo que as águas começaram a subir, participei de um trabalho voluntário. Soube, por uma amiga minha, que um grupo de professores da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) estava recrutando pessoas para brincarem com as crianças em um abrigo na Sogipa. Me prontifiquei e, em um sábado às 8h da manhã, fui até lá. A situação toda me chocou. 

Do alto do meu privilégio de não ter sido afetada pela catástrofe diretamente, conheci crianças que tinham sido atingidas, mas não transpareciam isso. A inocência dos pequenos era admirável. Porém, nos disfarçados detalhes, a percepção do que estava acontecendo voava e pousava na minha memória. Então a culpa, por alguns momentos, conseguiu adentrar meu ser. Como posso eu, que não sofri nem um terço do que eles sofreram, ter perdido a fé? Eles estavam carentes, irritados, inquietos, mas não tristes. O sorriso fazia questão de estar sempre presente nas brincadeiras e, sobretudo, nos seus cotidianos.

Força 

Escrevendo este texto, também lembrei de quando falei com a mãe do bebê que foi resgatado de helicóptero em Cruzeiro do Sul para escrever uma reportagem. Ela me disse, entre lágrimas, que seu filho, de apenas cinco meses, tinha sido a força da família. Que mesmo dentro da água, em cima de um colchão boiando, ou até sob o telhado, o bebê fazia todos rirem com suas brincadeiras e dava o fio de vida necessário para que eles se mantivessem de pé. 

Refletindo sobre tudo isso, concluo que as crianças representam aquilo que mais precisamos nesse momento de dificuldade pelo qual o Rio Grande do Sul está passando: esperança. De um mundo melhor, de uma vida mais leve, de menos danos à natureza. Precisamos lembrar que o planeta que estamos construindo agora será deixado para elas. Para a minha irmã, para sua sobrinha e para seu filho. E que é também por elas que devemos lutar.