Coluna da Maga
Magali Moraes: a maior faxina
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Quando os rejuntes dos seus azulejos estiverem encardidos, não reclama. Só limpa. O mesmo vale para o box do chuveiro. Os vidros sujos da janela. O chão da cozinha. O depósito das tralhas. Os degraus da escada. Dentro do forno. Atrás do sofá. Embaixo da cama. Em cima do armário. O pátio. A calçada. A garagem. Cansou? Limpa sem mimimi. E faz direito. Porque até o cantinho que você considera mais difícil de limpar não é nada perto da faxina que começou no Rio Grande do Sul.
Corrigindo: não é faxina, é faxinão. A água segue baixando e revelando lama por toda parte. Paredes danificadas, pinturas manchadas, fachadas marcadas, móveis em MDF inchados pra sempre, eletrodomésticos pifados, fiação encharcada. Haja rodo e disposição pra acabar com toda a sujeira causada pela enchente. Os garis estão empenhados na limpeza pra botar a cidade em ordem (muito obrigada!). Os vizinhos se unem em faxinas coletivas pra deixar habitável de novo os seus lares.
TOC
A maior faxina do Estado vai longe, tomara que apareçam muitos voluntários pra ajudar. Olha que bela oportunidade pra quem tem TOC de limpeza: o que não falta é imundície precisando de um faxinão. Pega tuas luvas de borracha e bora lá. Sabe aquele perfume gostoso de casa limpa? Tem bairros inteiros com mau cheiro do lixo acumulado e dos bichos mortos por causa das águas. Os entulhos vão se acumular nas calçadas, já pensou quantas caçambas serão necessárias pra levar tudo embora?
O que não dá pra recuperar: as lembranças perdidas. Não tem alvejante que dê jeito na caixa de sapato com as fotos antigas da família. Sabão nenhum salva a coleção de livros e a de histórias em quadrinhos. O mesmo balde que junta a água não consegue juntar as miudezas levadas pela correnteza. Pequenas no tamanho, enormes no valor sentimental. A vassoura que afasta a lama não traz de volta as pessoas desaparecidas. Esse faxinão geral vai ter que reorganizar também o nosso coração.