Coluna da Maga
Magali Moraes: música e outras fugas
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Tem dias em que a gente só quer fugir da realidade. Não tem sido fácil ultimamente. Que gaúcho consegue desligar dos acontecimentos aqui no RS? Com tantas estradas, pontes, bairros e cidades pra reconstruir, quando vamos conseguir parar pra cuidar da saúde mental de um Estado inteiro? São diferentes níveis de traumas e de angústia nesse constante pesadelo. Ainda estamos na fase de prover coisas básicas como abrigo, água, alimentação, roupas, calçados, remédios.
Só que o bem-estar mental é tão importante quanto o físico. Das vítimas e dos voluntários, nem se fala. Mas vivenciar uma calamidade afeta todos nós. Retomar o dia a dia vira um processo longo e indefinido. A vida chama, a gente trava e não dá conta. Acompanhar a previsão do tempo é tão tenso quanto as notícias. Logo vem mais chuva, e tantas partes da cidade continuam alagadas. Estamos como aqueles cães resgatados que, mesmo no colo de alguém, seguem nadando com as patas.
Concentrar
Quando tudo parece difícil demais, qual é a sua válvula de escape? Conversar? Escrever? Fazer um trabalho manual? Não tenho conseguido me concentrar nem pra pegar um livro e ler. Também não retomei as atividades físicas, que sempre ajudam a energizar. Ver um filme funciona bem como fuga, se bobear eu já pego o celular pra conferir o nível de água do Guaíba. Trabalhar ajuda a manter o foco (isso se você não pensar em quem perdeu o emprego). Ouvir música é sempre reconfortante pra mim.
Alguma rotina deve ser mantida, senão a cabeça não aguenta. Os refugiados climáticos que estão há dias (ou semanas) morando com amigos e familiares precisam se adaptar a novos horários, costumes e barulhos. Força aí. Sei que a vontade de voltar pra casa é grande, mas ter pra onde fugir e com quem contar num momento desses é privilégio. Pelo seu bem-estar mental, bota os fones de ouvido, escolhe uma playlist e deixa a música te embalar. Uma trégua das notícias, uma fuga necessária.