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Papo Reto

Manoel Soares: "Solvente universal"

Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados 

04/05/2024 - 09h00min

Atualizada em: 10/05/2024 - 20h27min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Manoel Soares / Arquivo Pessoal
Manoel faz um pedido de solidariedade para a população.

Por mais de 15 anos eu vivi as águas de enchentes no Rio Grande do Sul. Vi crianças e cavalos dormindo juntos para fugir da água podre. Vi cobras enroladas em madeiras de janelas próximas a uma senhora que dormia em um colchão todo encharcado. Vi pessoas cozinhando com água pela cintura por medo que ladrões invadissem sua casa e roubassem o pouco que elas tinham. Vi pessoas perdidas embaixo da lama por dias. Vi pai de família espancar uma senhora para pegar uma cesta básica alegando que ele precisava mais, porque ela morava sozinha e ele tinha quatro filhos e todos estavam sem comer há três dias. As chuvas só são o começo, pois como solvente universal, a água derrete e dilui tudo, inclusive as conquistas e sonhos. 

Sei que as chuvas do Estado estão sendo democráticas e levando tristeza tanto para ricos quanto para pobres. Mas, quem tem grana, tem maior chance de se recompor e, em um ano, essas águas serão uma história de superação a ser contada com vinho em frente à lareira. No entanto, para milhares de gaúchos é o fim da linha de dignidade. Não terão forças para comprar uma nova casa, para comprar roupas ou até mesmo para levantar da cama. E eles não são fracos por isso, só não tem de onde tirar. Para estes, envio minha solidariedade e respeito. Não deixem que essas águas derretam sua fé. Se há vida, há esperança.

Ajude

Quanto ao amigo, leitor, que está lendo esse texto no seco e com comida na panela, se puder ajude, divida, não só a comida ou dinheiro, mas com esperança. Dê um abraço, olhe no olho e diga que essa pessoa não está só. Se cada gaúcho com mais de R$ 50 mil na conta adotar uma família que está sofrendo, vamos tirar esse momento de letra. Porém, para isso, é preciso constância no compromisso. Não é só ajudar para aparecer nas redes sociais ou nesse momento de calamidade, mas permanecer perto até a dignidade ser restabelecida.

Assim como a água dissolve as vidas que ainda não estão sólidas, em termos de qualidade financeira e estrutural, essas águas podem amolecer corações endurecidos pelo privilégio. Deus faça esse solvente universal agir em seu coração.


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