O aquecimento global tem sido um tema bastante discutido depois das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. Para te ajudar a entender o que é esse fenômeno, o Diário Gaúcho conversou com pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo Jefferson Cardia Simões, coordenador científico do Centro Polar e Climático, e Francisco Eliseu Aquino, chefe do Departamento de Geografia da universidade, alguns fatores climáticos explicam a alta de precipitações no Estado, mas a ação humana, responsável pelo aumento da temperatura no planeta Terra, é a principal causadora dos desastres. Confira abaixo a explicação:

Como se forma a chuva?

Quando a água de oceanos, rios e lagos é aquecida pelo sol, ela evapora e se transforma em vapor de água. Em seguida, esse vapor se mistura com o areforma as nuvens. Quando a nuvem encontra massas de ar frio, o vapor condensa (a água passa do estado gasoso para o líquido), gerando precipitações (chuvas).

Por que choveu tanto no Rio Grande do Sul?

As chuvas foram causadas por três motivos: 

1. O Estado está sob o impacto de sucessivas frentes frias. Elas encontram uma barreira gerada pela onda de calor (na forma de uma zona de alta pressão, localizada no centro do Brasil) que atua como uma grande parede que bloqueia a passagem dessa frente fria e desvia a umidade do Oceano Atlântico e da Amazônia para o Rio Grande do Sul, causando mais chuvas. 
2. Outro fator é a presença do El Niño, um fenômeno atmosférico caracterizado, principalmente, pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico equatorial. Quanto mais aquecido, mais chuvas. 
3. Embora esses sejam dois motivos a se considerar, os pesquisadores apontam que a principal causa do desastre climático que atingiu o Estado foi o aquecimento global.

O que é aquecimento global?

O aquecimento global é o aumento da temperatura média do planeta, causado por intervenção humana. É consequência da intensificação do efeito estufa.

O que é efeito estufa?

É um fenômeno natural, que garante a vida no nosso planeta. Quando a radiação do sol chega à Terra, ela aquece a superfície onde vivemos, e isto aquece gases na atmosfera. Esses gases, conhecidos como os gases do efeito estufa (principalmente o dióxido de carbono, CO2, eogás metano, o CH4), trabalham para manter o planeta aquecido. O problema é que a ação humana está aumentando a emissão desses gases, o que deixa o planeta mais quente. Daí que vem o termo “aquecimento global”.

Como os gases do efeito estufa são liberados?

• CO2: Proveniente da queima de combustíveis fósseis (como o carvão mineral, petróleo e gás natural), queimadas e desmatamentos (é o processo de desaparecimento permanente de florestas)
• CH4: É liberado por bactérias do sistema digestivo do gado, aterros sanitários, lixões, e durante a atividade de mineração.

O que o aquecimento global tem a ver com as chuvas no Rio Grande do Sul?

Quanto mais quente o planeta, consequentemente, mais quentes as superfícies aquáticas (oceanos, lagos e rios). Como vimos anteriormente, esse aquecimento causa mais chuvas. Logo, podemos concluir que a grande precipitação que atingiu o Estado teve uma influência direta do aquecimento global.

Sempre haverá chuvas como essas no Estado?

O alto volume de chuvas já era previsto pelos cientistas. No entanto, imaginavam que chegaria apenas entre 2040 e 2060. Conforme explica o pesquisador Jefferson Cardia Simões, eventos climáticos extremos farão parte do nosso presente e futuro. E, ainda, podem piorar ao longo dos anos.

Os motivos que causaram as chuvas no Estado são os mesmos que causaram a enchente de 1941 em Porto Alegre?

Não. O que causou a chuva de 1941 foi justamente o El Niño. Agora, em 2024, o fenômeno meteorológico teve participação, mas os cientistas dizem que o maior vilão dessa história é o aquecimento global, ele que fez com que chovesse tanto no Rio Grande do Sul.

Como evitar que essas inundações aconteçam de novo?

Inicialmente, é importante que o poder público invista em proteção contra inundações e em sistemas de alerta para a população. Dessa forma, é possível mitigar as perdas.

O que podemos fazer para frear o avanço do aquecimento global?

É possível reverter, mas a longo prazo, e levaria centenas de anos. O que pode ser feito no momento, a nível global, é diminuir a emissão dos gases de efeito estufa. Por isso, devemos investir em transportes públicos e em energia renovável. Além de diminuir o desmatamento e desperdício de alimentos. – Esses são alguns exemplos diários e individuais, mas também é preciso investir em políticas públicas ambientais. A legislação ambiental brasileira vem sendo fragilizada, colaborando para o avanço dos eventos extremos – conclui o coordenador científico do Centro Polar e Climático.

Produção: Nikelly de Souza