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Após encontrar quadra devastada pela enchente, escola de samba Bambas da Orgia foca a reconstrução

Colunista Alexandre Rodrigues escreve sobre Carnaval e samba todas as sextas-feiras

07/06/2024 - 12h09min

Atualizada em: 07/06/2024 - 15h36min


Alexandre Rodrigues
Alexandre Rodrigues
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A inundação que alterou o cenário de Porto Alegre não poupou a quadra da escola de samba mais antiga da cidade, Bambas da Orgia. O reduto de ensaios e eventos da Azul e Branco fica localizado na Rua Voluntários da Pátria, 1.387 — próximo à rodoviária —, e só foi liberado para acesso no último sábado (1º), após quase um mês alagado.

— Nessa primeira abertura da quadra, fomos toda a diretoria, os conselheiros e alguns integrantes da bateria. Tínhamos marcado para o feriado (de Corpus Christi, dia 30 de maio), mas adiamos, pois voltou a chover e a água subiu um pouco. O objetivo era entrar, ver a situação e fazer uma avaliação — conta a presidente Fatima Sampaio, que tomou posse no cargo antes ocupado por Carlos Breik em 6 de maio, de forma virtual.

A água começou a invadir o local no dia 3 de maio e passou dos dois metros de altura na parte interna, onde ficam a bilheteria, banheiros, cozinha, sala de instrumentos musicais, entre outros espaços. Mesmo ainda não calculado financeiramente, o prejuízo é grande.

O que a gente encontrou lá foi muita, muita lama. Tudo fora do lugar. Tinha freezer em cima de balcão, mesas e cadeiras reviradas no meio da quadra. Na parte administrativa, bem na entrada, fica a nossa secretaria e foi perda total. Quase todos os registros (em papel) da escola também foram perdidos — comenta Fatima, destacando com emoção: — Nós temos uma imagem da padroeira de Bambas (posicionada numa base de madeira dentro de uma das salas), Nossa Senhora dos Navegantes, que ficou intacta, nos olhando.

Duda Fortes / Agencia RBS
Presidente Fatima Sampaio diz que água passou dos dois metros de altura no local.

Após o impacto ao ver a quadra devastada, ainda no sábado, membros da escola fizeram um mutirão de limpeza, principalmente na secretaria. Por lá, foram retirados quase que 100% dos móveis, todos inutilizados. Também foram separados objetos que, em outro momento, podem ser consertados. É o caso de importantes honrarias conquistadas ao longo dos mais de 80 anos da escola, como os troféus Vicente Rao, Zé Pereira e Aimoré Silva. O trauma se repete: em 2022, a quadra da escola foi alvo de assaltantes, que levaram 10 troféus — recuperados dias depois — e cerca de R$ 12 mil em cabos metálicos da sede.

Cena de chorar

Um dos danos mais entristecedores está relacionado aos instrumentos da bateria — alguns deles adquiridos recentemente, para o desfile que ocorreu em 24 de fevereiro, no Complexo Cultural do Porto Seco. Surdos, repiques, chocalhos e tamborins estavam "guardados a sete chaves" em uma sala na parte da frente da quadra. A força da água acabou fazendo com que muitos dos equipamentos — responsáveis por dar vida à escola na Avenida — fossem jogados para fora das prateleiras.

— Quando o Jefersandro (mestre de bateria) entrou, ele ficou muito mal. Batia com as mãos na cabeça, saía e voltava da sala. Totalmente desolado — relata a presidente.

José Cláudio Dutra / Divulgação
Mestre Sandro: "Juntos, vamos levantar a nossa escola".

O desespero e a sensação de impotência começaram muito antes da visita à quadra. Mestre Sandro — como é conhecido — desfila, só na bateria da escola, há mais de 40 anos. Ele conta que, quando soube das primeiras notícias sobre o alagamento na região central da cidade, já não tinha mais o que fazer.

— Na sexta (dia 3 de maio), quando começou a enchente na rua, comecei a ligar para a diretoria. Quando deu 10h30min da manhã, a água já estava na rodoviária e eu, como moro na Restinga, não tinha como chegar por causa da distância. Depois de alguns dias, começaram a mandar fotos da Voluntários e o desespero foi ainda maior — afirma o mestre, relembrando o momento em que viu os estragos de perto: — Os instrumentos são como filhos pra mim, pois faço a manutenção, eu arrumo, deixo tudo pronto para os ensaios e desfiles. Quando vi aquela cena, foi de chorar. Estamos falando de uma história de 84 anos de uma das escolas de samba mais antigas do Estado. Depois dessa pancada, vamos desmontar os instrumentos, ver o que podemos recuperar. Tenho certeza que vamos conseguir seguir em frente. Juntos, vamos levantar a nossa escola.

Apoio da comunidade carnavalesca

O show não pode parar e o próximo passo, agora, já está organizado. Um mutirão de limpeza com lava-jatos, fechado apenas para membros da escola, ocorre neste sábado (8). Outras ações devem ser anunciadas em breve para que mais pessoas possam colocar a mão na massa. A presidente Fatima faz questão de agradecer a preocupação e união da comunidade carnavalesca para com Bambas da Orgia nas últimas semanas:

Estamos recebendo muitas ligações, muitos contatos, inclusive de outras escolas se colocando à disposição no que for preciso. Abrimos nas nossas páginas um pedido de ajuda pelo Pix, tem muita gente mandando. Também temos várias pessoas da escola que perderam suas casas e estamos fazendo uma força-tarefa para ajudar. Mas sem o nosso QG, fica difícil.

Como ajudar

  • Doações para a Bambas da Orgia podem ser feitas pela chave Pix 91.818.484/0001-36 (CNPJ).
  • O contato com a escola é por meio do Instagram: @sbcbambasdaorgia.

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