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Retomada no Centro Histórico

Bancas são reabertas no Mercado Público: "É o pulmão da cidade"

Quatorze estabelecimentos voltaram às atividades após 41 dias fechados

14/06/2024 - 16h53min


Vitor Netto
Vitor Netto

“O Mercado é o pulmão da cidade”. Assim define Claudemiro Adam, um dos permissionários que reabriram o seu estabelecimento no Mercado Público de Porto Alegre. De forma parcial, 14 estabelecimentos retornaram suas atividades nesta sexta-feira (14), depois de 41 dias fechados devido a enchente de maio

Os comércios com acesso a parte externa reabriram ainda no início da manhã, por volta de 8h. O espaço interno com acesso ao segundo piso foi reaberto ao público às 10h. No momento, somente o acesso pela Borges de Medeiros com a Siqueira Campos está funcionando. 

Lancheria abriu antes do horário

Mesmo com o horário agendado para às 8h, a ansiedade pela reabertura tomou conta de Geovani Duarte de Souza, proprietário da Lancheria Luz. O estabelecimento fundado em 1988 fica voltado para a estação Praça Pereira Parobé. Entre os carros chefes da lancheria estão o pastel de camarão frito na hora e o bolinho de batata. Desde cedo se ouvia o barulho da fritadeira e o cheiro do café passado se espalhava pelo local. 

— Ficamos na angústia pela reabertura, então a data de hoje é muito importante. E nesse período fechado, os clientes sempre mandavam mensagens e perguntando quando íamos reabrir. 

A estimativa de Souza é que o prejuízo, contando a perda de materiais, novos maquinários e duas parados, chegue a R$ 300 mil. 

Restaurantes voltam a operar no segundo piso

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Funcionários nos últimos preparos para a reabertura do Mercado.

Bacalhau, a la minuta, pratos de massas e garçons andando de um lado para o outro com bandejas com chopes gelados e cremosos. Assim foi a manhã de reabertura do segundo piso, onde majoritariamente funcionam restaurantes. 

Trabalhando há 28 anos no Mercado, sendo 16 como proprietário de restaurantes, Claudemiro Adam é dono do Bar Choppe 26 e do Mamma Júlia, que reabriu as portas nessa sexta-feira com boas expectativas para o recomeço. 

—Passamos primeiro pelo incêndio, depois pandemia e agora a enchente. E isso tudo nos torna mais forte. Dizem que o Mercado é a alma, mas é o pulmão da cidade. Sem o Mercado o Centro não existe. 

O incêndio relembrado por Adam ocorreu na madrugada de 6 de julho de 2013, quando chamas tomaram a estrutura do espaço. Marcos Claro da Gama, que trabalha há 18 anos no Mercado e atualmente é um dos garçons do Bar Chopp 23, lembrou as dificuldades passadas nos 12 anos em que o espaço foi reconstruído.

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Marcos Claro da Gama trabalha há 18 anos no Mercado Público.

— O incêndio foi muito difícil e o tempo foi muito demorado para retornar, ficamos trabalhando na parte de baixo. Então, hoje estar trabalhando aqui de volta, depois de tudo isso, é muito bom. Vamos dar a volta por cima mais uma vez — afirmou o garçom. 

"Energia lá em cima"

O ponto central do Mercado é tomado por um vaivém frenético de pessoas. Elas correm contra o tempo para reabrir o local na terça-feira (18), quando todos os espaços serão reabertos.

O barulho de madeira sendo cortada e parafusadeiras é ouvido de longe. Latas de tinta e escadas também fazem parte do cenário do espaço.

É o caso de Carolina Kader, cuja família é proprietária do Armazém do Confeiteiro, referência de produtos naturais e de confeitaria há 30 anos. A banca fica localizada bem ao centro do Mercado. Lá, 1m52cm de água ficaram acumuladas dentro do estabelecimento

— Todo dia passávamos no centro e fazíamos uma "régua ocular", na esperança de ver se diminuía a água. Quando baixou e chegamos, vimos a destruição. Passamos dias sem falar nada. Começamos a se juntar e fazer o que podíamos. Agora, estamos com uma ansiedade e agitação. Com a energia lá em cima. 

Móveis, freezers e maquinário precisou ser reposto. A estimativa de perdas de itens e de produtos chegue a R$ 700 mil. 

Em busca de ingredientes para o mocotó

O mix de produtos dentro do Mercado Público é variado, de itens religiosos a vinhos, passando por alimentos. Elenivenes Guedes da Roza, de 70 anos, é uma das consumidoras assíduas, e voltou ao local após descobrir que estaria reaberto.  Ela mora na rua Barão do Gravataí, no bairro Menino Deus, e foi fortemente afetada, perdendo móveis de sua casa. 

— Eu sempre compro ração para meus gatos, ervas para banhos e, como é a semana do meu aniversário, eu vim comprar 'linguiçinha' e feijão para fazer mocotó

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Elenivenes Guedes da Roza: "Eu gosto muito daqui".

Porém, os estabelecimentos que procurava estavam fechado, mas nem por isso deixou de aproveitar o momento para o "passeio". 

—  Não tem explicação, eu gosto muito daqui. Às vezes eu chegava em casa, esquecia de algo e voltava. Minha filha diz "vai lá dar uma volta". Hoje, por exemplo, é um dia que tu vem aqui de tarde e tem samba, então a gente fica rodeando a volta. 

“Inspiração para o Centro Histórico” 

O Mercado é um dos principais pontos turísticos e comerciais do Centro Histórico. Por lá, circulam diariamente cerca de 300 mil pessoas. Com 132 estabelecimentos, gera 1,5 mil empregos diretos e indiretos. Com o ambiente limpo, o Mercado passa por uma reabertura gradual e a expectativa do secretário de Administração e Patrimônio de Porto Alegre, André Barbosa, é de que o funcionamento pleno seja observado a partir da segunda quinzena de julho. 

— O Mercado Público é a alma da cidade. Ver os mercadeiros voltando o mais rápido possível, estando de pé, é uma inspiração. Isso é inspirador para o Centro Histórico. 


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