Dificuldades após enchente
Com casas arrastadas pela água, moradores seguem acampados na Ilha do Pavão
Ainda há entulhos na frente de residências e a marca de lodo mostra água chegando perto do teto em várias delas
Uma das áreas mais atingidas pela enchente, a região das ilhas em Porto Alegre ainda vai demorar para se recuperar. Na Ilha do Pavão, muitas casas que eram de madeira foram destruídas e arrastadas pela inundação, deixando seus moradores sem perspectiva de voltar a ter uma residência.
Perto da associação de moradores, famílias saíram com o que deu para levar e acamparam em tendas improvisadas em uma elevação de terra do outro lado da rua.
— Na minha casa, a água arrastou, saímos só com a roupa do corpo. Para fazer comida só durante o dia, porque de noite é escuro — conta a dona de casa Carla Daisy da Silva Nunes, 35 anos.
Ao lado dela, a mãe, Maria Machado da Silva, 70, também perdeu tudo. Uma tenda foi montada para dormir e manter protegidas as doações e o pouco que deu para resgatar, como um pequeno fogão.
— Foi tudo o que tinha dentro. Agora estou em uma barraca, vou voltar para o meu pátio e morar dentro da barraca — prevê a pescadora.
A outra filha de Maria também ficou sem casa e está acampada com os três filhos.
— A água levou minha casa inteira, com tudo dentro. Tirei os meus filhos e agradeço a Deus por ter conseguido. Vieram com aluguel social, mas a gente paga e mal tem para comer — desabafa a dona de casa Janaína da Silva Nunes, 33 anos.
Associação de moradores
A água também atingiu a Associação de Moradores da Ilha do Pavão. A presidente da entidade, Sandra Ferreira, conta que voluntários ajudaram a limpar a sede. Segundo ela, o cheiro forte ainda é um problema no refeitório.
— Não temos nem água e nem luz. Não temos nem ideia de quando vai vir. Fomos nós, junto a ONG Regeneraí, que tivemos de conseguir um caminhão de água. Veio um caminhão de Rio Grande, um doador nos deu um caminhão de água e uns geradores também, para a gente ligar os lava-jatos e poder limpar a associação e o refeitório — explica Sandra, que está há 35 dias sem voltar para casa e ainda não consegue ir pela dificuldade de acesso.
Nas casas em volta da sede da associação, o Guaíba subiu atingindo partes que antes não chegava. Ainda há entulhos na frente das residências e a marca de lodo mostra água chegando perto do teto em várias delas. Outras deixaram de existir, restando apenas os terrenos vazios.
— Muita gente não tem para onde ir. Os abrigos estão fechando e as pessoas vêm me perguntar onde podem ficar — afirma Sandra.
Acampados na BR-290
Nas proximidades da BR-290, moradores estão acampados porque tiveram as casas destruídas e não têm para onde voltar. Crianças brincam pelas ruas enquanto as escolas estão sem aulas na região.
— Aqui dormem nove pessoas. O fogão a gente buscou lá na lama para poder cozinhar e aqui é o banheiro das crianças — conta a dona de casa e recicladora Ariana Dias da Silveira, 33 anos, mostrando um pequeno balde amarelo dentro da tenda montada às margens da rodovia desde o início de maio.
Perto do Clube Náutico Navegantes São João, uma kombi virou a moradia provisória de Valmir Veríssimo da Silva, 62 anos. Com a fachada da casa de madeira caída e a estrutura comprometida, o autônomo fez uma cama dentro do veículo, juntou as doações que trouxe do abrigo onde estava, e se instalou ali. Esta no local há uma semana ali, sem saber como ficará a situação.
— Não tinha como ficar no abrigo, muita gente, então vim para cá.
Sobre o abastecimento de água, o Dmae afirma que a ETA Ilha da Pintada retomou a produção de água no sábado (8), mas que trabalha para reconstituir alguns pontos de rede avariados com a enchente, o que pode impactar no restabelecimento do sistema nos próximos dias. Procurada, a CEEE Equatorial, não deu retorno para a reportagem.