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Normal distante

Com ruas tomadas por entulhos, Eldorado Sul tem ainda mais de cinco mil desalojados devido à enchente

Escolas ainda enfrentam dificuldades: das 19 instituições municipais, apenas três estão funcionando

07/06/2024 - 11h06min


Kathlyn Moreira
Kathlyn Moreira
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Com a redução dos alagamentos, a população de Eldorado do Sul, na Região Metropolitana, se dedica à limpeza de residências e convive com pilhas de entulhos que se acumulam pelas calçadas nesta quinta-feira (6). Segundo a prefeitura, 5.400 pessoas seguem em casas de parentes ou amigos, e mais de 300 em abrigos.

Entre os locais mais atingidos, o bairro Cidade Verde estava praticamente vazio no começo da manhã, já que muitos moradores ainda não conseguiram retornar. A força da água derrubou paredes, muros e até telhados de imóveis. A comunidade conta que há partes em que a inundação cobriu totalmente as casas.

Moradora da região, a dona de casa Simone Silva dos Santos, 53 anos, permanece abrigada no Ginásio Eliseu Quinhones, no centro da cidade, porque não tem condições de voltar.

— Tem um pouco de água nos fundos, mas entrar não dá, é perigoso, porque ela (a casa) se partiu no meio, tem muita lama. Eu perdi minha casa, minhas três filhas também. Então, a gente tá à espera, como diz aquele filme, à espera de um milagre — desabafa.

Simone e a família passaram por uma peregrinação até chegar ao abrigo. Eles estiveram em uma escola, que teve risco de alagamento e ficaram acampados na BR-290 por três dias.

Eu nunca tinha dormido na minha vida na chuva, e pela primeira vez eu dormi — conta ela, que também já tinha sido atingida pela inundação em novembro do ano passado.

Também moradora do bairro Cidade Verde, a auxiliar de serviços gerais Ana Paula Lopes da Rosa, 52 anos, ainda não foi para casa e está abrigada em um bar que virou ponto de retirada de doações de roupas e calçados.

— Um está ajudando o outro. Quando eu preciso, tem pessoas que me ajudam também. Então é muito importante isso, a união — relata.

No bairro Vila da Paz, há uma grande quantidade de detritos. São montanhas em calçadas como da Avenida Getúlio Vargas. No Sans Souci, a água baixou e ainda há bastante lodo pelas ruas e materiais descartados na frente das casas.

Na região do bairro Itaí, moradores faziam mutirão de limpeza e lidavam com o cheiro forte da lama e resíduos que sobraram após a diminuição dos alagamentos. Na Avenida Alvício Heller, retroescavadeiras faziam a remoção de montes de areia que prejudicavam a circulação.

Na frente de cada residência, vizinhos faziam a retirada de móveis e pertences que não poderiam mais ser recuperados. A casa do taxista Aurélio Ribeiro, 78 anos, parecia um imóvel novo a prestes a ser ocupado, porque ficou com vários cômodos vazios.

— Não tem mais móveis, tudo está no lixo, na rua esperando a prefeitura remover. Essa porta é a entrada da frente, mas está prensada e não abre. O meu quarto e da minha esposa está completamente vazio — mostra o morador, um português que está há 53 anos no mesmo terreno.

Escola está tomada pela lama

Além de casas e estabelecimentos comerciais, a água atingiu as escolas. Das 19 instituições municipais, apenas três conseguiram voltar às aulas. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Antônio Vieira, no bairro Itaí, professores e funcionários trabalhavam na higienização dos espaços após ficarem mais de 30 dias sem conseguir acessar o local.

O diretor e presidente do Conselho Municipal de Educação de Eldorado do Sul, Jorge de Deus, mostrou à reportagem de Zero Hora que a água subiu a ponto de derrubar uma geladeira no refeitório e deixar as mesas de refeições cobertas de lodo.

— Aqui era a sala dos professores. Pegou nos armários e cadernos. Nosso bebedouro dos alunos... espero recuperar um dia. Aqui tem o som que eu colocava música para os estudantes, esse tem um valor sentimental — lamenta o diretor.

Na secretaria, documentos antigos que não eram digitalizados foram perdidos. Dentro de uma das salas de aula, mesas e cadeiras dos estudantes estavam tomadas pela sujeira marrom.

— Nossa lousa interativa custa cerca de R$ 50 mil. Não tenho a menor noção se será possível restaurar. Aqui só preservamos as televisões e ar-condicionado, o resto ficou debaixo d'água — comenta Jorge.

Ele explica que as escolas estão planejando um cronograma personalizado para recuperação das atividades, de acordo com o cenário de cada instituição.


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