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Para abrir os caminhos

Distrito Industrial de Gravataí receberá estátua em homenagem à entidade Exu Bará da Rua

 Inauguração do monumento será neste sábado, às 21h

21/06/2024 - 05h00min

Atualizada em: 21/06/2024 - 20h32min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Yorhan Santos / Acervo Pessoal
Monumento ficará localizado no Distrito Industrial de Gravataí.

A cidade de Gravataí, na Região Metropolitana, receberá uma estátua em homenagem à entidade Exu Bará da Rua. A escultura ficará localizada no Distrito Industrial do município. Segundo o Tatá de Quimbanda Independente (sacerdote na religião) e delegado do Conselho Municipal do Povo do Terreiro, Mestre Lukas de Bará da Rua, a imagem representa uma vitória para as comunidades das religiões de matriz africana do Rio Grande do Sul. Gravataí conta com mais de 400 casas de religião registradas.  

— Na cidade, temos diversos monumentos e imagens dedicados a santos e divindades de outras religiões, mas ainda não tínhamos algo que representasse o Povo do Terreiro — explica Mestre Lukas. 

Ele foi o responsável, por meio do Conselho Municipal, por pleitear a instalação da imagem. O projeto foi levado ao vereador Alison Silva (MDB), que liderou a iniciativa na Câmara de Vereadores junto à secretária do Conselho Municipal do Povo de Terreiro, Reneci da Silva. Eles abraçaram a causa e conquistaram aprovação na Câmara. Em seguida, o projeto foi apresentado ao prefeito da cidade, Luis Zaffalon, o Zaffa, que autorizou a instalação, que será inteiramente financiada pelo Templo Mensageiros da Luz, onde Mestre Lukas é sacerdote. 

Para o Povo do Terreiro, a estátua na cidade simboliza caminhos abertos em todas as áreas. 

— Bará é o senhor dos caminhos. Queremos caminhos abertos no amor, na saúde para toda a cidade. Com os caminhos abertos, tudo flui. A ideia de colocar Bará é realizar essa movimentação de caminhos, principalmente na área industrial de Gravataí, para trazer dinamismo às indústrias — conta Mestre Lukas sobre o intuito da instalação da homenagem. 

Mestre Lukas / Reprodução
Estátua foi recriada a partir de uma imagem presenteada.

Guardiões

A estátua, construída pelo escultor Orderio Rosa de Oliveira, foi recriada a partir de uma imagem presenteada a Mestre Lukas pelos seus filhos em 2021, e que hoje é pertencente ao seu terreiro. Feito inteiramente em cimento, o monumento terá 2 metros de altura e ficará sobre uma plataforma que, no total, terá 4 metros. 

A inauguração, marcada para este sábado (22), às 21h, na rótula do Distrito Industrial de Gravataí, contará também com a entrega do troféu Guardiões da Quimbanda a sacerdotes e sacerdotisas que contribuíram para fortalecer a quimbanda na região, em referência aos Exus e Pombagiras. 

Também está sendo realizada uma campanha de arrecadação para doação às famílias afetadas pelas enchentes que ocorreram em maio.

A religião no Estado

A quimbanda é uma linha de umbanda, religião brasileira que une elementos de crenças africanas, indígenas, orientais e europeias, como o catolicismo e o espiritismo. 

— A Umbanda têm uma teologia de evocação e manifestação de espíritos. Nela temos os pretos velhos que são nossos ancestrais negros que foram escravizados e mais uma gama de espíritos que chamamos de Povo da Rua, que é a falange dos Exus e das Pomba giras - isso é a Quimbanda - espíritos que trabalham com e na rua, com a dinâmica diária das pessoa — diz a cientista social Nina Fola.  

Mesmo a quimbanda sendo destacada como outra religiosidade, ela não existe sem as outras religiões, comenta a especialista:

— Para compreender Exu, a gente precisa compreender os orixás. Quando a gente vivencia uma dessas religiões, a gente vivencia todas as outras, como a umbanda, o batuque, o candomblé e as outras religiões de matriz africana que existem no Brasil — completa Nina. 

Segundo o Movimento do Povo do Terreiro, há estimativa de que existam mais de 65 mil terreiros no Rio Grande do Sul, sendo o povo gaúcho um dos que mais se declara de religião afro-brasileira. No processo para a aprovação do monumento do Exu Bará da Rua na Câmara de Vereadores de Gravataí, porém, o monumento sofreu com a resistência devido à intolerância religiosa, o que atrasou a instalação da imagem.

 — A gente sofre por um mecanismo, por uma estrutura que se origina do racismo, do racismo religioso, de quererem proibir a nossa forma de se manifestar. A violência acontece no Brasil como um todo, mas, em relação às religiões de matriz africana, tem piorado. É preciso fazer essa reflexão pública, entendendo as dinâmicas de cada grupo religioso — finaliza a cientista social. 

Produção: Murilo Rodrigues



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