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Direto da Redação

Leticia Mendes "Não jogue suas fotos fora"

Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

05/06/2024 - 09h00min

Atualizada em: 05/06/2024 - 09h00min


Leticia Mendes
Agência RBS / Agência RBS
Direto da Redação

Tenho pouquíssimas fotografias minhas quando criança. Muito porque entre os longínquos anos 1980 e 1990 não era assim tão simples obter um registro fotográfico. Era necessário investir numa máquina fotográfica (ou pegar a dos amigos emprestada) e depois levar o filme para revelar . E esperar pelo resultado da revelação, que nem sempre era dos melhores.

De quando eu era bebê minha mãe só tem duas fotos guardadas. Numa delas, bem pequena, estou num carrinho na frente de uma casa onde morei, mas não me recordo. O enquadramento não é dos melhores. Quase que a bebê de bochechas redondas não saiu na foto. No cantinho onde estou, parte do papel está destruído. Meu primo, numa traquinagem das que adorava fazer, conseguiu incendiar o guarda-roupas onde eram guardados os álbuns de fotos. A foto sobreviveu, mas assim, meio esgualepada. E, talvez pela história, ainda é uma das minhas favoritas.

A outra foto foi tirada na maternidade, no dia em que nasci, num gélido 12 de julho de 1987. Na imagem, estou ao lado de outra bebê. Atrás da foto, escrito a mão, há uma mensagem: "nascidas no mesmo dia". Por muito tempo quis saber quem era a menina que nasceu no mesmo dia. Mas minha mãe não sabia quem era a bebê, só lembrava vagamente. Até que, 17 anos depois, no último dia do Ensino Médio, descobri que uma das minhas amigas mantinha a mesma foto em casa. Era ela a bebê ao meu lado na maternidade. As mães tinham se equivocado na legenda. Lenise dividira o quarto do hospital comigo, mas era um dia mais velha do que eu.

Pensei na importância dessas imagens na minha vida, quando vi nesta semana uma iniciativa dos estudantes do Núcleo de Antropologia Visual da UFRGS. A ideia é ajudar as pessoas que tiveram suas fotografias molhadas na enchente a salvá-las, de forma gratuita. "Não jogue suas fotos fora", alerta o card do Navisual. Os interessados devem entrar em contato pelo WhatsApp 51-998874374. Em meio à tantas perdas que vivemos, iniciativas que ajudam a preservar memórias merecem ser reconhecidas. É uma forma de salvar a nossa história. 


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