Papo Reto
Manoel Soares: "Vila do Manoel"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Nessa última terça feira, eu completei 44 anos. O ano que passou foi de desafios e renovações. Eu tive que criar para mim uma forma de não deixar que as inseguranças da vida me devorassem, naqueles minutos que a cabeça frita antes de pegar no sono. Minha estratégia foi criar uma “Vila do Manoel”, tipo aquela do Chaves. Essa vila existe na minha imaginação, e eu escolhia quem iria morar nela.
Comecei a decidir quem jamais teria uma casinha na vila do meu coração. Comecei por listar pessoas que me tratavam mal, que mesmo me amando não me respeitavam, pessoas que não sabiam o limite que divide a admiração da inveja, quem não respeitava meus filhos, quem falava sem pensar e tinha por hábito pedir desculpa depois, pessoas que só eram amigos de minha fama e dinheiro, quem sempre tinha um defeito para colocar no meu sorriso, quem sabotava meu jeito de amar, quem me elogiava demais, pessoas que mentiam para mim, mesmo em coisas pequenas, pessoas que criticavam meus filhos, que falavam mal de minha esposa, que nunca se preocuparam em me pagar o dinheiro que emprestei, que me ligavam em um momento de dor, não para me dar apoio, mas para ter certeza que eu estava sofrendo, pessoas que não viam na minha mãe o ser forte que merecia nossa reverência... Tirei de minha vilinha mental aquelas pessoas que quando saíam de perto de mim, eu ficava com uma dor de cabeça terrível, que não me fizeram nada, mas traziam uma energia que me consumia.
Tem que merecer
Bom, quando fiz essa limpa em minha vilinha, um monte de casa ficou vaga e estou recebendo novos inquilinos, bem aos poucos, porque não precisamos ter pressa para encher a vila de nosso coração. Para morar nela, tem que merecer.