Risco de contaminação
Saiba quais itens de alimentação, higiene e limpeza podem ser utilizados após o contato com água da enchente
Dentro das residências ou em estabelecimentos comerciais, cheia atingiu grande quantidade de produtos. Entenda quando é possível fazer uso e as diferenças quanto aos tipos de embalagem
Seja em estabelecimentos comerciais ou dentro de residências, muitos produtos acabaram submersos com a água da enchente que atingiu o Rio Grande do Sul. Mas, entre os itens de alimentação, higiene e limpeza, o que ainda é possível recuperar, consumir e utilizar?
Após um atacado de Porto Alegre ter sido multado vendendo embalagens danificadas, a dúvida ficou mais recorrente. O Procon da cidade, inclusive, intensificou a fiscalização em supermercados.
Para esclarecer ao consumidor o que ainda pode ser aproveitado após o contato com a água e a lama, Zero Hora conversou com a nutricionista da Equipe de Vigilância de Alimentos da unidade de Vigilância Sanitária da prefeitura de Porto Alegre, Sílvia Pauli, e com o professor do curso de Engenharia Química da Universidade Feevale, Rogerio Lourega. Confira:
Produtos alimentícios
A nutricionista destaca que a orientação da equipe de Vigilância é de que todos os produtos que tenham entrado em contato com a água ou a lama da enchente não devem ser consumidos ou comercializados. Devido ao risco de contaminação, todos devem ser descartados.
— A partir do contato com bactérias, vírus e fungos, esses agentes podem ocasionar doenças, como diarreia, vômito, náusea, dor de cabeça e uma série de sintomas. O mesmo ocorre com alimentos que não entraram em contato direto com a água, mas ficaram armazenados em locais alagados, com umidade em excesso e falta de ventilação — diz Sílvia.
Segundo a nutricionista, nem sempre os danos podem ficar visíveis e a proliferação de micro-organismos pode ocorrer sem ser identificada a olho nu. Outros vetores que causam risco e prejudicam a qualidade dos alimentos são ratos e baratas, por exemplo.
O professor também destaca que o ideal é fazer o descarte de alimentos, já que eles não passarão pelo teste de coliformes. O recomendado é que esse tipo de produto passe por análise.
Embalagens plásticas
Itens de cesta básica com embalagens plásticas, como arroz, feijão e massa, devem ser descartados, pois a proteção não é considerada estanque.
Latas
Segundo o professor, embalagens que ficaram submersas por períodos maiores podem sofrer com oxidação e o consumo não é recomendado. Já produtos em lata que não ficaram debaixo d’água, Lourega comenta que é possível analisar a possibilidade de consumo:
— Essas embalagens possuem características de ficarem vedadas, então, em relação somente à umidade não teria problema.
Bebidas
O professor afirma que, em geral, vinhos e espumantes ficam sob pressão, o que impede a entrada de água. No caso da umidade, o problema seria menor.
— Até mesmo pela rolha é difícil de permear. Mas é sempre necessário observar caso a caso. Teoricamente, o refrigerante de embalagem plástica também não teria problema, sendo higienizado. Já em relação ao leite, as condições de temperatura e umidade alteradas podem afetar a qualidade do produto, não sendo recomendado o consumo — diz Lourega.
Produtos de limpeza
Produtos chamados de “domissanitários”, usados para a limpeza de espaços, devem ser avaliados conforme a embalagem. Os de embalagem plástica, sem rompimento, podem ser aproveitados mediante higienização.
No caso do sabão sólido com embalagem plástica sem vedação total, é necessário descartar, pois o produto não terá mais eficácia. Itens como papel toalha não devem ser utilizados. Eles podem até secar, mas não ficam mais em sua composição original, perdendo poder de absorção.
Produtos de higiene
Conforme o professor, a lógica do papel higiênico é a mesma do papel toalha. Escovas de dentes também devem ser descartadas, em função de as embalagens geralmente conterem papel.
Já as pastas de dente devem ser verificadas. Se a vedação tiver sido mantida, é possível reavaliar a utilização. Sobre desodorantes, Lourega orienta ao descarte. É provável que os de spray que ficaram submersos, por exemplo, estejam contaminados.
Sinais de alerta
Apesar de nem todos os indícios de contaminação serem identificados a olho nu, a nutricionista da Equipe de Vigilância de Alimentos da unidade de Vigilância Sanitária da prefeitura de Porto Alegre orienta que é possível ficar atento a alguns sinais de alerta nas embalagens:
- Ferrugem em latas
- Atritos em geral
- Estufamento de embalagens
- Modificação na composição original da embalagem
Na hora do descarte, principalmente de alimentos, Sílvia indica que os produtos sejam retirados da embalagem original, inviabilizando o consumo por outras pessoas ou animais. É recomendado, inclusive, que sejam aplicados produtos como água clorada, com forte odor, repelindo sua posterior utilização.