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Cuidado com água parada

Sujeira e entulho podem contribuir para aumento dos casos de dengue no RS

Depois de um verão marcado por recordes da doença, alagamentos podem influenciar comportamento da arbovirose

07/06/2024 - 12h38min


Denzel Valiente
Denzel Valiente
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Denzel Valiente / Agencia RBS

O Rio Grande do Sul soma 221 óbitos por dengue, segundo a última atualização do Painel de Casos de Dengue do governo do Estado, desta quinta-feira (6). O início do ano foi marcado pelo recorde de casos e mortes. Com a chegada dos meses com temperatura mais baixa, a tendência é de queda nas infecções pela doença, porém a enchente histórica de 2024 pode ter influência sobre este cenário.

Nesta quarta-feira (5), a reportagem circulou pelo bairro Humaitá, na zona norte de Porto Alegre, um dos mais afetados pela enchente. Na avenida Palmira Gobbi, assim como em ruas dos arredores da Arena do Grêmio, o cenário é o mesmo quarteirão após quarteirão. Centenas de móveis destruídos se encontravam amontoados em frente a prédios e casas.

O cheiro forte de podridão também tomou conta do bairro. Na rua Max Juniman, há carros estacionados com marcas de água até o teto. Nas pilhas de descarte, além dos restos de móveis, há potes plásticos, livros, caixas de ovos, roupas e até alimentos em embalagens fechadas.

São estas condições que podem favorecer os criadouros para o mosquito Aedes aegypti, causador da dengue. Apesar das temperaturas mais amenas, os ovos deste mosquito podem ficar em estado de latência. A partir do final do inverno, com o retorno do calor e do sol, podem seguir o desenvolvimento — e até causar uma epidemia maior do que a do início deste ano. É um dos efeitos colaterais da enchente no longo prazo.

— As baixas temperaturas interrompem a reprodução do mosquito. Mas os ovos ficam ali, esperando um aumento de temperatura e um reabastecimento de água no recipiente, e quando começa a aumentar a temperatura e a chuva, na primavera, eles retomam esse ciclo de reprodução — explica o médico infectologista do Hospital Moinhos de Vento e diretor científico da Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI), Paulo Gewehr.

A expectativa, na avaliação do infectologista, é uma diminuição dos casos de dengue nos próximos meses, mesmo no cenário pós enchete. Já a manutenção desse índice baixo de casos deve depender do sucesso na gestão destes resíduos e áreas com água represada:

— Não basta um ou dois dias de sol para ativar o ciclo de reprodução do mosquito. Nós precisamos de vários dias com temperaturas elevadas. A limpeza e o saneamento desses entulhos são fundamentais. É (preciso) eliminar os focos de proliferação do mosquito. Eles (mosquitos) continuam se desenvolvendo, principalmente nesse entulho.

Além dos métodos de prevenção como a eliminação da água acumulada, o infectologista da SGI acrescenta uma indicação. 

— A principal prevenção é utilizar a vacina que está disponível no SUS para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Então, é uma vacina segura e altamente certificada. Aquelas outras pessoas, de quatro a 60 anos, podem encontrar essa vacina na rede privada, mas ela entrou em desabastecimento — completa.


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