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Recuperação

Ainda é possível salvar eletrodomésticos atingidos pela enchente? Instituições seguem oferecendo apoio a afetados

Passados dois meses da maior catástrofe natural da história do RS, projetos continuam resgatando e dando utilidade aos aparelhos das famílias afetadas, de forma gratuita. A iniciativa se repete em diferentes cidades e é mais um passo importante rumo à retomada da rotina e do Estado

05/07/2024 - 10h44min


Fernanda Polo
Fernanda Polo
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A casa da atendente Maria Jucelei Festinalli, 48 anos, em São Leopoldo, ficou 28 dias completamente submersa. Apostando que a água não subiria tanto na enchente de maio, a família apenas ergueu os móveis e eletrodomésticos, mas tudo foi perdido. Graças ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de São Leopoldo, alguns equipamentos estão sendo reabilitados. O freezer e o secador de cabelo já retornaram à casa de Maria. Alguns aparelhos, entretanto, não tiveram conserto, como a geladeira e a panela elétrica. A máquina de lavar e outros itens ainda continuam na unidade, com a esperança da moradora de salvar mais coisas.

Passados dois meses da maior catástrofe natural da história do RS, projetos continuam resgatando e dando utilidade aos eletrodomésticos das famílias afetadas, tudo de forma gratuita. A iniciativa se repete em instituições de diferentes cidades e é mais um passo importante rumo à retomada da dignidade do povo gaúcho, e do Estado como um todo.

É uma boa ação, porque as pessoas não têm condições de pagar os consertos, tu perdeu tudo, é complicado. Então tu vai indo, conseguindo o básico do básico. É uma ajuda muito boa. Eu agradeço pela oportunidade que eles nos deram, pelo apoio. Muitas coisas tu vai pensar em mandar arrumar e já estão com um preço lá em cima, e tem muita demanda. Tem que ir lutando, de um lado e do outro — relata Maria.

Ainda é possível salvar aparelhos?

Em geral, ainda é possível recuperar aparelhos que foram afetados, mesmo a esta altura. No entanto, reparos podem ser necessários, conforme Lucas Morais, aluno de Engenharia de Controle e Automação e líder do projeto Ressignificando Eletrônicos, criado por estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ao lado da colega Giulia Colombo, da Engenharia Elétrica. No caso de máquinas de lavar, provavelmente não seja mais possível recuperá-las apenas com limpeza, pois algumas peças estragam, enferrujam e devem ser trocadas.

Por outro lado, itens como geladeiras (cujas peças são mais baratas) e fogões são mais fáceis de consertar. Instrutor de nível técnico do Senai, Marcos Kuhn afirma que os aparelhos tendem a voltar a funcionar ao secar – o problema é a presença de lodo, sendo necessário limpar e retirar a umidade. O tempo, portanto, não influencia tanto a questão, e sim as condições do equipamento.

É preciso avaliar caso a caso. Para alguns itens, o custo do conserto não vale a pena – mas, na maioria das vezes, compensa. Equipamentos mais caros tendem a ser mais difíceis de repor, e mesmo que a vida útil diminua, o reparo ajuda a adiar a compra neste momento de dificuldades, lembra Kuhn. Contudo, o instrutor alerta que se o custo do aparelho ultrapassar 50% do valor de um novo, dificilmente o conserto vale a pena, já que ele pode apresentar outros problemas no futuro.

Os responsáveis pelo Ressignificando Eletrônicos recomendam não jogar aparelhos fora e seguir o guia de limpeza disponibilizado em suas redes sociais para tentar salvá-los. Se não for possível, o próximo passo é buscar uma assistência técnica. O instrutor do Senai, por sua vez, não recomenda que pessoas sem conhecimento técnico tentem realizar reparos em casa, devido ao risco de segurança ao lidar com energia elétrica e a possibilidade de estragos.

Senai

Há duas linhas de ação do Senai-RS: a de consertos de máquinas de pequeno porte, para micro e pequenas empresas; e de eletrodomésticos da comunidade. Em São Leopoldo, unidade com a maior estrutura, foram recebidos 320 equipamentos em pouco mais de um mês, com 175 consertos. Atualmente, há 150 em reparo. Mais de cem famílias já foram beneficiadas pela ação, sendo, em média, três equipamentos por grupo familiar – geladeira, fogão e máquina de lavar. Em função da alta demanda, o tempo de entrega pode ser elevado.

Cerca de 25 instrutores da área técnica estão envolvidos, além de mais de 360 alunos que já passaram pela ação e 110 profissionais do Senai de outros Estados. A intenção também é capacitar os alunos, por meio da situação de aprendizagem focada. O serviço também está sendo realizado em Canoas e em Lajeado.

Universidades

Desde o início da enchente, diversas universidades também se mobilizaram com esse objetivo. Na Unisinos, foram 593 reparos, com taxa de sucesso de 83%. Porém, a universidade só voltará a receber aparelhos (como torradeiras, fornos, liquidificadores) após consertar os 640 que ainda aguardam. Na Feevale, foram 225 computadores, notebooks, aparelhos de TV e aparelhos de som reparados.

O projeto Ressignificando Eletrônicos, da UFRGS, continua ativo, contando também com a ajuda voluntária de ex-alunos, professores e técnicos. Desde maio, já foram cerca de 170 aparelhos consertados, entre máquinas de lavar, micro-ondas, fogões, fornos, ventiladores e geladeiras. O atendimento ocorre diretamente na casa das pessoas afetadas, na Região Metropolitana. Com a volta às aulas, porém, o projeto está em busca de mais voluntários e de apoio financeiro. Parcerias para trabalhar com computadores também são bem-vindas.

— Ver o resultado, as proporções que está tomando, é extremamente gratificante, pela quantidade de pessoas que conseguimos auxiliar. Mesmo quando a gente não consegue, a gratidão das pessoas só por estar tentando ajudar faz tudo valer a pena — relata Morais.


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