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Com apoio de doações, coletivo de arquitetos reforma escolas de Porto Alegre atingidas pela enchente

Grupo de profissionais realiza o trabalho de recuperação a partir de parcerias. São seis instituições beneficiadas, incluindo uma ONG de Taquara, que ficaram submersas. Elas atendem 1,2 mil crianças

22/07/2024 - 14h23min


Isabella Sander
Isabella Sander
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Os corredores da Escola de Educação Infantil Mário Frigo, no bairro Farrapos, em Porto Alegre, estão cinzas e vazios há dois meses e meio. Antes repletos com mais de cem crianças, brinquedos e cores, os espaços, atingidos pela enchente, aguardam pela retomada da rotina. Mas não deve demorar: a reforma do local está a todo vapor, feita de graça pelo coletivo Arquitetos Voluntários, que articula doações de parceiros para viabilizar a volta das atividades.

A instituição de ensino é conveniada da rede municipal da Capital. Os recursos para a reforma estão sendo pagos pelo Instituto Mari Johannpeter e o projeto para a recuperação do local foi elaborado pela arquiteta popular Karol Almeida, por meio de sua empresa, Kopa Coletiva. De início, as necessidades de reparos pareciam menores.

— A estrutura do prédio está ótima e, de início, parecia que não se tinha perdido quase nada. Depois de uns dois dias limpando, o revestimento começou a cair e concluímos que precisaríamos fazer uma reforma completa, até por ser um espaço que atende crianças: não dá para correr o risco de cair o revestimento — observa a profissional.

Como a obra depende de doações também de materiais, é mais difícil precisar uma data para a conclusão, mas o coletivo trabalha com uma previsão para setembro. A regularização de contrapisos e rebocos já foi concluída, mas os revestimentos de pisos e paredes, que virão de doadores, ainda não chegaram. Dentro do possível, e seguindo os padrões da Rede Calábria, responsável pela escola, e da Secretaria Municipal de Educação (Smed), a busca é por tornar a construção mais resistente a futuras enchentes.

Para aproveitar a mão de obra, os trabalhadores iniciaram a fundação de um espaço extra nos fundos do prédio, onde funcionará o refeitório. Até agora, as crianças se alimentavam em um ambiente improvisado, onde também era feito o atendimento de famílias e precisava ser montado e desmontado. As paredes receberão motivos lúdicos, com desenhos de árvores, flores, borboletas e animais. Depois de tudo pronto, o mobiliário será adquirido por meio de recursos da Secretaria Municipal de Educação.

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Rosa Tainara lembra com tristeza do dia em que entrou no prédio após a água baixar.

Coordenadora da Mário Frigo, Rosa Tainara conta que, enquanto a escola não reabre, parte da equipe foi remanejada para auxiliar em outras instituições e parte permanece lá, administrando as doações e fazendo trabalho de manutenção do vínculo com as famílias, muitas das quais, atingidas pela enchente, seguem fora de casa. Entre o grupo, ainda reverbera o dia em que foi possível entrar no prédio depois de a água baixar:

Foi muito impactante. Nós passamos a maior parte do nosso tempo aqui dentro, nos dedicamos a ver a escola cada vez melhor, com um funcionamento melhor para atender as crianças. Estávamos em um momento em que estávamos muito realizadas, porque estava tudo organizadinho. Chegamos e fomos encontrando os brinquedos, que a gente sabia que eram os preferidos desta ou daquela criança. Foi bem triste.

ROSA TAINARA

Coordenadora da Mário Frigo

De 16 colaboradoras da escola, sete perderam tudo na inundação. Uma delas é a professora Vanessa Martins.

— Foi duro, além de perder as nossas casas, chegar aqui na escola e perceber que perdemos tudo aqui também — lamenta a docente.

Segundo as profissionais, a Rede Calábria angariou doações para ajudar seus funcionários afetados, como móveis e eletrodomésticos. Outras doações que chegam, como cestas básicas e produtos de higiene e limpeza, estão sendo estendidas para as famílias das crianças matriculadas.

Missão Reconstrução RS

Nomeada de “Missão Reconstrução RS”, a iniciativa dos Arquitetos Voluntários trabalha na reforma de seis instituições, sendo cinco escolas de Porto Alegre e uma ONG de Taquara, que atendem, no total, 1,2 mil crianças:

  • Escola Marista Menino Jesus (bairro Floresta)
  • Centro de Educação São Vicente de Paulo (São Geraldo)
  • Escolas de Educação Infantil Vitória (Humaitá)
  • Escola de Educação Infantil Mário Frigo (Farrapos)
  • Escola de Educação Infantil Nossa Senhora dos Navegantes (São Geraldo)
  • ONG Vida Breve (município de Taquara)

A ONG foi a menos afetada entre as seis, e está recebendo trabalho, principalmente, de reposição de equipamentos e na área externa. Até o final de julho, a expectativa é de concluir a reforma na escola Vitória. Em agosto, a Menino Jesus deve estar pronta. Em seguida, a Mário Frigo e a São Vicente de Paulo têm previsão de entrega. Por fim, a Nossa Senhora dos Navegantes, que pôde manter as atividades letivas, pois não tem salas de aula no térreo, recebe obras apenas aos finais de semana e tem execução mais lenta.

O coletivo, que, na pandemia, construiu salas de descompressão para profissionais de saúde nos hospitais, considerou que, após a inundação, a prioridade era recuperar espaços que atendem crianças, a fim de trazer uma melhoria na vida delas e de suas famílias.

Buscamos trazer esse conforto para as crianças e pensamos bastante nessas famílias, que precisam se reestruturar, e esses núcleos para as crianças são importantes para que as pessoas possam retomar as suas rotinas.

BIANCA RUSSO

Arquiteta e diretora operacional dos Arquitetos Voluntários

O coletivo, que começou com sete arquitetos, hoje tem um cadastro de voluntários que gira em torno de 500 pessoas. Nos grupos de trabalho ativos atualmente, são quase 150 voluntários de diferentes áreas, como arquitetura, direito, contabilidade, comunicação, design e engenharia.

Para escolher as instituições a serem beneficiadas, os profissionais fizeram um mapeamento dos locais que ficaram submersos e buscaram detalhes sobre as entidade. Alguns critérios precisavam ser cumpridos, como a estrutura do prédio estar preservada, que a entidade esteja regularizada e que o local não seja em área de preservação.

Além das seis instituições que atualmente recebem as obras, os Arquitetos Voluntários pretendem assumir outras ações, mas isso depende do sistema de doações envolvido, que permite a atuação deles. O coletivo pede apoio em doações desde os próprios insumos até recursos financeiros para seguir reconstruindo os estabelecimentos.


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