Bota-espera
Com aterro de Gravataí fechado, lixo pós-enchente é levado para terreno na Severo Dullius
Previsão de liberar nesta semana três depósitos provisórios precisou ser adiada
A prefeitura de Porto Alegre encaminha temporariamente os resíduos pós-enchente para o terreno de um antigo aterro da Capital, localizado na Severo Dullius, no bairro Sarandi, zona norte de Porto Alegre. O envio dos entulhos para Gravataí, na Região Metropolitana, foi suspenso após uma decisão do Ministério Público.
Conforme o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), o recolhimento das montanhas de lixo acumulado nos depósitos provisórios foi interrompido no final de semana. Agora, as equipes trabalham com limitação.
— Nós continuamos trabalhando, mas sem destinar esses resíduos a Gravataí. Estamos esperando a determinação do Ministério Público Estadual e da SEMA do município para retomarmos a nossa operação — explica o diretor-geral do DMLU, Carlos Alberto Hundertmarker.
— Neste momento, nós não temos como encaminhar todos esses resíduos desses outros bota-espera lá para o antigo aterro na Zona Norte, mas nós estamos monitorando todas as áreas — complementa.
Desde o dia 24 de junho, a empresa MCT Transportes assumiu o transporte de resíduos de três depósitos temporários. Dois estavam na Rua Voluntários da Pátria — na esquina com a Rua Seis, perto da Arena do Grêmio, e próximo ao cruzamento com a Avenida Cairú. Em cada um, havia aproximadamente 6.500 toneladas, segundo a estimativa da prefeitura.
O terceiro fica na Avenida Loureiro da Silva, nas proximidades do prédio da Receita Federal. Havia ali 12 mil toneladas de lixo acumulados, e cerca de 15% do material segue no local.
A prefeitura esperava liberar os três espaços ainda nesta semana, mas a suspensão do envio dos resíduos para Gravataí postergará o prazo. O DMLU pretende esvaziar os três depósitos até o dia 4 de agosto. A MCT Transportes também assumiu a limpeza do bota-espera do Sambódromo, no Porto Seco — ali, o contrato vai até 7 de agosto.
Conforme a empresa que administra o Aterro São Judas Tadeu, em Gravataí, as adequações solicitadas pelo Ministério Público já começaram a ser realizadas. Mesmo assim, ainda não há um prazo para a retomada do serviço no local.
Montanhas de entulhos acumulados provocam desconforto em moradores da Zona Norte
O bota-espera da Rua Voluntários da Pátria com a Adelino Machado de Souza, na Vila Farrapos, segue tomado por resíduos. Na tarde desta terça-feira (23), não havia maquinário ou equipes trabalhando na remoção dos materiais descartados no local.
Formadas por materiais como colchões, pedaços de móveis e metais, as montanhas de entulhos viram ninhos de ratos e baratas. O forte cheiro dificulta o dia a dia dos moradores
Marie Claire Fernandes, de 45 anos e moradora do bairro há 15, teme que o volume de lixo na região afete a saúde dela e do filho Nicolas, de 6 anos, que tem medo de sair de casa por conta do número de animais saindo do terreno.
— Está sendo bem complicado para nós aqui do bairro. Tem sido insuportável abrir a janela e conviver com esse cheiro horrível. A gente pensa muito nas crianças, que estão em casa e sem aula, mas precisando conviver com esse lixo e os bichos aqui. Final do dia chega a ter corrida de ratos aqui na rua e as crianças nem querem sair de casa — lamentou.
Também na região, o aterro da Rua Seis, próximo à Arena do Grêmio, no bairro Humaitá, apresenta um menor volume de materiais da enchente. Porém, foi possível perceber que moradores elaboraram um caminho por entre o lixo para sair das vielas da região.