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Direto da Redação

Giordana Cunha: "Lembranças encarceradas"

Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

17/07/2024 - 11h41min


Giordana Cunha
Giordana Cunha
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Agência RBS / Agência RBS
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Quando se fala na palavra “cárcere”, logo vem em mente as pessoas que estão privadas de liberdade. Pouco se fala, se ouve e se pensa nos profissionais que fazem o sistema “andar”. Me refiro aos agentes penitenciários, agora policiais penais.

Filha de dois profissionais da área, o presídio sempre foi um ambiente muito normal para mim. Costumo dizer que “fui criada em cadeia”. Essa fala vem muito das orientações que recebi durante a vida e relatos feitos por eles, especialmente pelo meu pai. Desde a proibição de frequentar certos lugares, até aprender alguns “macetes” para ter mais atenção no que acontece ao meu redor. “Um ouvido na galeria e outro na segurança”, dizia meu pai.

Lembro de acordar na madrugada, quando criança, e ir pedir refúgio na cama deles. Todas as vezes, meu pai acordava com as mãos fechadas, em posição de ataque, pronto para dar um soco em alguém. “Sou eu”, eu falava tentando acalmar. Naquela época, a minha pouca idade não me deixava ter dimensão do que se passa do muro para dentro. Hoje, eu agradeço por ter eles comigo. Tenho certeza de que não sei 10% do que já viveram, do medo que tiveram e da pressão que sofreram nesses tantos anos de sistema.

As condições de trabalho destes profissionais são insalubres. Enquanto as celas estão superlotadas, do outro lado das grades sobra espaço pela falta de efetivo. Fazendo uma conta rápida, com números disponibilizados no site da Polícia Penal do RS: são mais de 45 mil presos para um pouco mais de 6 mil agentes penitenciários (englobando os três cargos). Ou seja, quase oito apenados para cada profissional. Segundo o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, a recomendação é de que sejam cinco para cada agente.

Fato é que os agentes são uma espécie de escudo humano, à mercê de uma possível rebelião/motim, seja qual for o nome que queira chamar. Os reflexos da profissão na saúde dessas pessoas e de quem os rodeia não são mensuráveis, mas também não é preciso um grande esforço para enxergá-los.


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