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Coluna da Maga

Magali Moraes e a meia furada

Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

08/07/2024 - 07h00min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Fernando Gomes / Agencia RBS
Magali Moraes

Começa com uma descosturadinha leve. Quando vê, o dedão está quase saindo pelo buraco. Logo vira uma cratera. Calcanhares e solas de pé também adoram abrir caminho no tecido da meia. Sofrem de claustrofobia e não aguentam ambientes fechados? Talvez isso explique o fato de nunca ser apenas um buraco. Eles se multiplicam rápido. É a meia que ficou velha, e mais parece um queijo suíço esburacado? Ou é preguiça de pegar agulha e linha pra costurar?

E tem o coitado do pé. Se for friorento, tá lascado. Vai ter vento encanado. Ele já sofre dentro de tênis apertado, sofre de chulé e quando pisam nele. Merecia usar uma meia decente. Não precisa ser nova, só bem conservada. Se você gentilmente se oferecer pra costurar a meia de alguém, certifique-se de que água e sabão chegaram ali primeiro. Boa ação tem limite, né? Agora se estivermos falando da sua meia, eu garanto: agulha e linha não mordem. Uma espetadinha no dedo faz parte.

Cirurgiã

Não posso ver meia furada que me dá vontade de agir. Pego a caixinha de costura com os primeiros socorros pra tecidos e afins. Ao abrir, me imagino uma cirurgiã experiente em um bloco cirúrgico, prestes a suturar a pele de alguém. A fita métrica e os alfinetes de cabeça colorida não serão necessários. Separo a tesourinha. Escolho a espessura da agulha e a cor certa de linha. Será que os cirurgiões também demoram pra passar a linha pelo buraco da agulha? Então inicio a delicada sutura.

Esse delírio dura cinco segundos. Não sei costurar meias, o que dirá humanos. Minha habilidade é com vogais e consoantes, sem gotas de sangue. No setor das costuras, consigo fazer o básico: um remendo honesto. Tomara que a meia seja preta, aí me sinto mais à vontade pra errar o trajeto da agulha e dar pontos em diferentes tamanhos e direções. O importante é fechar o buraco. Quando chega o momento final de cortar a linha e dar um nó na ponta, vem a sensação da vitória. Consegui!

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