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Coluna da Maga

Magali Moraes e as invernadas

Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

12/07/2024 - 05h00min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Fernando Gomes / Agencia RBS
Magali Moraes

Não sei você, mas eu ainda não me acostumei com o frio extremo que anda fazendo ultimamente. É um julho de tiritar, e essa massa de ar polar que atinge o Sul da América do Sul parece que congela até a alma (os pés, nem se fala). Enquanto escrevo essa coluna, enrolada num cobertor quentinho e mal mexendo os dedos, fico pensando na Tamara Klink. Taí uma guria bem mais disposta e preparada pro frio. Nosso inverno é fichinha perto do que ela enfrentou há pouco na Groenlândia.

Viu a entrevista domingo passado no Fantástico? Tem várias matérias mais completas na internet sobre a última aventura da filha velejadora do Amyr Klink. Tamara passou oito meses em um barco ancorado no gelo, e se tornou a primeira mulher a completar sozinha o período de invernagem no Ártico. Você consegue se imaginar tanto tempo no meio do nada, só o branco da neve a perder de vista, lidando com imprevistos mais complicados do que um nariz escorrendo? Eu não.

Coragem

Tamara Klink, 27 anos, puxou ao pai navegador. Mas não recebeu ajuda financeira ou dicas dele (que já fez uma invernagem assim, entre muitas outras). Ela foi na garra e coragem. Por mais preparada que estivesse, a solidão deve ter sido tão ameaçadora quanto os ursos polares e os icebergs no caminho. Vale a pena ver os vídeos que ela gravava pra sua avó, sempre sorrindo confiante, sem ter certeza desse reencontro, contando suas descobertas e resolvendo os enormes desafios que ela mesma se impôs.

Já eu sigo em terra firme, assoando o nariz e tiritando. Tamara fez história, palmas pra ela. Como sobreviver a um inverno sem longos banhos de pelar porco, tendo que derreter punhados de neve pra lavar as partes? Sem ninguém pra conversar? Sem calor humano? Cada um enfrenta as invernadas que pode. Extremos não me atraem. Claro que é inspirador acompanhar as travessias de uma mulher determinada como a Tamara Klink. De casa, com todo conforto e um chá fumegante.

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