Coluna da Maga
Magali Moraes: oi, nostalgia
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Engraçado como o túnel do tempo não é tão óbvio como aparece em filmes. Na vida real, esses portais que nos levam ao passado estão disfarçados de objetos cotidianos. Um álbum de fotografias (esse é fácil de reconhecer), uma correntinha dada de presente numa data especial, a caneca comprada durante uma viagem, a roupa que não saía do corpo em determinada época. Também pode ser um lugar, como a rua onde moramos na infância ou a pracinha preferida dos filhos já crescidos.
Mudanças de endereço, que envolvem desmontar uma casa cheia de lembranças, são outro tipo de portal. Temos a chance de escolher o que levar junto e o que desapegar (desculpa aí, nostalgia). Mas o legal mesmo é não ter momento certo pra viajar no tempo. Que bom ser pega de surpresa, assim do nada, e ver a mágica acontecer. Às vezes, tem spoiler. Como a minha mãe fez recentemente: “Abre essa gaveta, quero te mostrar uma coisa”. De repente, décadas inteiras invadiram a sala.
Calendário
Quem é gaúcho e já passou dos 30 vai lembrar dos brindes de final de ano que a gente ganhava da rede de supermercados do esquilinho: os panos de prato com calendário. Dava pra pendurar na cozinha e se situar nos dias e meses ou secar louça ignorando a passagem do tempo. Na época, esses calendários comemorativos eram mimos simpáticos. Hoje são relíquias e até registros históricos. Para os curiosos, vou postar fotos do achado arqueológico nas minhas redes sociais.
O pano mais antigo é de 1986. Eu tinha 19 anos, e lembro perfeitamente dele na nossa rotina. Achei também os calendários dos anos que meus filhos nasceram. Claro que fui relembrar em que dias da semana as datas caíram. Depois a pilha dobrada voltou pra gaveta da mãe. “Tu quer? Pode pegar.” Deixa quieto, melhor não dar espaço pra nostalgia. Do túnel do tempo, só quero espiadelas. O presente pede atenção total, e todo minuto faz diferença nas memórias que estou criando daqui pra frente.