Notícias



Oportunidades na periferia

"Tem tudo que é necessário para ser um esporte": novidade das Olimpíadas é praticada em projeto social da Restinga

Série de reportagens do Diário Gaúcho apresenta histórias de três jovens da periferia de Porto Alegre que praticam esportes olímpicos. Conheça o b-boy César Oliveira e aprenda as regras da dança

27/07/2024 - 05h00min

Atualizada em: 27/07/2024 - 05h00min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Renan Mattos / Agencia RBS
Restinga Crew tem história no bairro.

Com uma abertura emocionante, tiveram início, nesta sexta-feira, as Olimpíadas de Paris. Competindo em 39 modalidades diferentes, 276 atletas brasileiros marcarão presença nos jogos. Em 2024, o maior evento do esporte mundial garante novidades e muita vibração

O tênis, o breaking e a ginástica artística são algumas das modalidades olímpicas que prometem muitas emoções. Nessa série de reportagens, do Diário Gaúcho apresenta as histórias de três jovens atletas de Porto Alegre e explica como funcionam esses esportes

Depois do sucesso do skate em Tóquio, é hora de outra prática da periferia fazer sua estreia nas Olimpíadas: em 2024, o breaking — ou breakdancig chega levando arte e música para os jogos. Os b-boys e b-girls, como são chamados os praticantes da modalidade, vão poder mostrar seus movimentos na competição esportiva mais importante do mundo.

Porém, nada disso é novidade para César Daniel Pereira de Oliveira, 19 anos. O pai dele, o b-boy Julinho, é um dos fundadores do Restinga Crew, grupo de danças urbanas criado em 2002 que promove a valorização da cultura hip hop. Nascido nesse berço, o jovem estava destinado a trilhar um caminho na dança. Ainda assim, foi só nos últimos anos que César entrou de cabeça no breaking.

Mas, depois de se envolver com o projeto, não se vê mais fazendo outra coisa. Atualmente, ele treina e ajuda o pai nas aulas de breaking. César vê a estreia nos Jogos Olímpicos como um ganho para a modalidade

Tem tudo que é necessário para ser um esporte. Quem joga vôlei tem que treinar, se qualificar, saber as regras… com o breaking não é diferente. Agora, com as Olimpíadas, vai ter mais gente querendo saber sobre isso e eu espero que comece a ter mais oportunidades para os b-boys e b-girls. Muitos param de dançar porque precisam ter outros trabalhos, não conseguem só treinar, passar adiante o seu conhecimento.

O Restinga Crew tem sede própria há três anos. É lá que o grupo se reúne para praticar e montar as coreografias. Além disso, são oferecidas aulas de breaking e danças urbanas para as crianças do bairro por um preço simbólico, só para as despesas do espaço. Isso alegra César que, durante o tempo de escola, era o único de seus amigos que praticava a dança.

—  Quando as crianças veem a gente fazendo os movimentos, ficando com uma mão só no chão, elas chegam a ficar emocionadas, e ficam muito felizes quando conseguem aprender. Eu acho que o breaking está onde ele tem que estar, que é na periferia. E não tem diferença entre a modalidade masculina e feminina. O que um tem a capacidade de fazer, o outro também tem.

César confirma que os movimentos são tão difíceis quanto parecem. Pode levar meses até que o b-boy aprenda a executar um passo mais difícil com perfeição. Mas, para ele, a adrenalina de participar de uma batalha e a satisfação de superar a si mesmo compensam o esforço. Além disso, a dificuldade não está só nas acrobacias: é preciso combiná-las com a música que está tocando e ter criatividade para montar uma coreografia única

— É muito difícil, e mesmo agora que eu estou bem qualificado é estranho pensar em como eu cheguei a esse ponto. Nunca dá vontade de parar de aprender. 

Conheça o esporte

A competição de breaking é chamada de batalha. Os b-boys e b-girls se apresentam em rodadas chamadas sessions e são avaliados por jurados que votam em quem acham que foi melhor. São critérios de avaliação: dificuldade e execução dos movimentos, musicalidade e criatividade. A principal regra de uma batalha é não tocar no adversário.

— É complicado definir o que conta mais, porque os movimentos são difíceis, mas sem a musicalidade a pontuação não é tão alta — César acrescenta.

Erros como chutar o chão, cair, escorregar, tropeçar ou qualquer falha que impossibilite o atleta de terminar a sessão causam perda de pontos.

Para entender

  • Top rock é a abertura da dança. São movimentos que o atleta faz de pé, iniciando a sessão
  • Foot work são os movimentos feitos no chão, tanto com as mãos quanto com os pés 
  • Power moves e spin moves são os giros e acrobacias 
  • Freeze é o movimento de parada da dança
  • Um dos desafios é apresentar uma sequência de passos que se encaixe na música, que é escolhida por um DJ na hora da competição. Isso é a musicalidade. Existem diferentes tipos de break beat, como é chamado o som, que pode ser mais rápido ou mais lento
  • Da mesma forma, existem diferentes estilos de dança. Os atletas devem montar as coreografias com criatividade e apresentar passos que mostrem sua personalidade

Nas Olimpíadas

A estreia da modalidade aconteceu nos Jogos Olímpicos da Juventude em 2018. Com a aprovação do público, agora o esporte passa a integrar o programa olímpico. Infelizmente, nenhum atleta brasileiro se classificou para Paris 2024.

Produção: Caroline Fraga



MAIS SOBRE

Últimas Notícias