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La Niña duplo? Saiba como a ocorrência simultânea do fenômeno pode influenciar o tempo no RS

Cientistas monitoram o resfriamento da faixa equatorial dos oceanos Pacífico e Atlântico, que causam alteração no ciclo da chuva no planeta

28/08/2024 - 09h38min


Vinicius Coimbra
Vinicius Coimbra
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Lauro Alves / Agencia RBS
Último La Niña ocorreu entre 2020 e 2023. Na imagem, Soledade, no Norte, em janeiro de 2021, quando a seca fez desaparecer dois açudes na propriedade de um agricultor.

Dois fenômenos La Niña simultâneos poderão influenciar a dinâmica do tempo no Brasil nos próximos meses. Ambos significam o resfriamento da água oceânica. 

A diferença é que um está relacionado ao Oceano Pacífico equatorial e costuma causar estiagem no Estado e chuva acima da média no norte e nordeste do país.

O outro La Niña monitorado poderá ocorrer na faixa equatorial do Atlântico, oceano que banha o Brasil. Essa anomalia tem menos influência no clima global na comparação com o primeiro, conforme os estudiosos. 

No entanto, os meteorologistas aguardam a evolução da temperatura nos dois oceanos para definir os resfriamentos como fenômenos La Niña – a caracterização carece de séries mensais de temperaturas da água abaixo da média, o que não ocorreu ainda nos dois casos.

La Niña no Pacífico, o “clássico” e mais relevante

Segundo o último relatório (leia aqui) da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), existe uma probabilidade de 66% de desenvolvimento do La Niña entre setembro e novembro de 2024 no Pacífico equatorial. A chance sobe para 74% da ocorrência do fenômeno entre novembro e janeiro.

O La Niña no Pacífico ocorreu pela última vez entre julho de 2020 e fevereiro de 2023. Para o Estado, costuma significar estiagem. Segundo Guilherme Borges, meteorologista da Climatempo, a ocorrência do fenômeno ainda não está confirmada.

— Ele está atrasado em relação ao previsto, que era começar em setembro. No momento, as projeções da NOAA indicam a temperatura dentro da normalidade. Se ocorrer o fenômeno, é possível que seja de fraca intensidade, com poucos efeitos sentidos no Brasil — afirma.

La Niña no Atlântico, menos conhecido e de fraca intensidade

Em material publicado neste mês, a NOAA afirmou que o Atlântico equatorial apresentou temperaturas anormais entre fevereiro e março, quando ultrapassaram 30ºC, algo que não ocorria desde 1982. 

No entanto, houve uma rápida reversão de cenário, nunca observada nos registros, conforme o relatório. Desde junho, o Atlântico equatorial tem apresentado temperatura entre 0,5ºC e 1ºC abaixo do esperado para o período.

Se a tendência de resfriamento persistir nos próximos meses, as autoridades meteorológicas devem definir a situação como um La Niña. Isso não será algo incomum, segundo Douglas Lindemann, doutor em meteorologia e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

O La Niña e o El Niño são fenômenos que sempre existiram no Atlântico. São negligenciados porque costumam ser de fraca intensidade e gerar menor impacto no sistema climático global, diferentemente dos fenômenos do Pacífico, que são mais intensos e duradouros e afetam diversas regiões, como no caso do Rio Grande do Sul.

Segundo ele, inexiste relação entre os dois fenômenos, que podem ocorrer de forma simultânea, algo registrado entre 2011 e 2012. Mesmo se o La Niña for confirmado pelos cientistas no Atlântico, a situação não deverá causar eventos extremos nos municípios gaúchos, segundo Lindemann.

— O La Niña do Atlântico interfere no regime de chuva no nordeste do Brasil e nos países africanos da margem oeste. Ela não causa uma alteração no sistema de circulação atmosférica que possa nos atingir direta ou indiretamente, então não há por que ter impacto no Rio Grande do Sul.


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