Coluna da Maga
Magali Moraes e a cortina que voa
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Ela não nasceu pra ser capa de super herói. Ninguém espera que voe, salte, persiga vilões e salve vidas. Muito menos que apareça em um cartaz de cinema. Cortinas existem especialmente pra proteger do sol e dos curiosos. Também pra fazer bonito, se bem que isso depende mais do bom gosto dos donos da casa. A cortina certa veste uma sala ou um quarto, sem precisar seguir o look da moda. Mas nem sempre é valorizada como suas primas ricas, as persianas. Com motor até.
Por isso acho lindo ver uma cortina de pano que, de repente, voa. O motivo pode ser um ventinho anunciando chuva, e o tecido balança suave. Caso a janela esteja aberta, as cortinas mais rebeldes vão fugir. Nem que seja pra lugar nenhum, escapando pela fresta pra tomar um ar. Já vale o passeio pro outro lado do vidro, independente da vista lá fora. É a cortina que voa pra conquistar uma liberdade momentânea. Mesmo sabendo que logo será puxada de novo pra dentro de casa.
Trilhas
Esses dias, vi algo assim inesperado em pleno trânsito da cidade. A cortina voadora tinha escapado da janela de um ônibus de excursão. Li na lataria alguma coisa relacionada a fazer trilhas. Cadê as matas e bosques por perto? Não consegui ver se havia gente no seu interior, se estavam indo ou voltando. Só reparei que a cortina se divertia voando. Leve e curtinha, abanava ao sabor do vento. Quanto mais o motorista acelerava, mais ela voava. Livre, sem se importar com a poluição do ar.
A cortina arejava suas ideias, e eu encontrava uma ideia pra coluna. Como é bom presenciar o prazer da liberdade, nem que seja de um pedaço de pano. Vinda de um ônibus, me lembrou a liberdade dos ônibus escolares em dia de passeio. Sem as crianças gritando, o que é raro. Foi um momento de paz, inspiração, e me agarrei a ele. Vou prestar atenção a outras cortinas e suas histórias. Quem sabe libertar uma persiana triste de escritório que não bateu as metas, nem bateu o vento.