Luto
Morre Milton Sete Cordas, músico e ícone do choro pelotense
Sepultamento do músico ocorreu no dia 12 de agosto, no Cemitério São Francisco de Paula, em Pelotas
Faleceu na última segunda-feira (12), aos 85 anos, o ex-integrante do Regional Avendano Júnior e um dos grandes ícones do choro pelotense, o violonista e seresteiro Milton da Costa Alves, conhecido como Milton Sete Cordas. Ele enfrentava uma longa batalha contra um câncer.
Criado na zona portuária de Pelotas, Milton demonstrava habilidade com o cavaquinho desde jovem, participando de rodas musicais nas ruas da Várzea e da zona do Porto. Ao atingir a maioridade, ingressou no serviço militar, onde conheceu e iniciou uma parceria duradoura com o músico Avendano Júnior. Foi a partir de Milton que Avendano começa a tocar cavaquinho.
No final da década de 1950, se alistou para representar o Brasil em uma missão de paz das Organização das Nações Unidas (ONU) na faixa de Gaza, experiência que o levou a lugares como Grécia, Líbano, Egito e Israel. Durante a jornada, fez amizade com outros músicos e participou de um grupo que tocava para animar os soldados. Em uma destas ocasiões, foi ouvido pelo Embaixador do Brasil no Cairo, que convidou o grupo a tocar em uma recepção para a Seleção Brasileira de Futebol.
Trajetória Musical
Foi no choro que Milton encontrou sua verdadeira paixão. Influenciado pelos LPs de Waldir Azevedo, compositor de clássicos como Brasileirinho, se encantou pelo som grave do violão de sete cordas. Sem nunca ter ouvido falar do instrumento, ele fez, junto ao parceiro Avendano Júnior, uma campanha para arrecadar fundos e comprou seu primeiro sete cordas em 1971. A afinidade com o instrumento foi tanta que ele passou a ser conhecido como Milton Sete Cordas, apelido que manteve até o fim de sua vida.
Sua trajetória musical foi marcada por fazer parte do grupo Regional Avendano Júnior, no qual participava juntamente com o amigo de longa data e outros músicos, como o violonista Aloyn Soares. O grupo se estabeleceu como uma presença constante, por mais de 30 anos, no bar O Liberdade, que ficava na rua Marechal Deodoro, em Pelotas.
— Assim como os demais membros do Regional Avendano Júnior, ele foi fundamental para consolidar o choro como prática musical popular em Pelotas, graças à longevidade de sua atuação no bar Liberdade. Além disso, ele e Aloyn foram precursores e principais referências da linguagem do violão de sete cordas de choro na região — afirma Rafael Velloso, um dos coordenadores do Acervo do Choro de Pelotas.
O local chegou a ser homenageado em documentário de mesmo nome que mostrava o coração da vida boêmia do município. Porém, fechou suas portas com o falecimento de seu proprietário, em 2014.
Mesmo com idade avançada, continuava a tocar seu icônico sete cordas nas rodas de choro do Mercado Central e, mais recentemente, no Utopia Casa Bar, no Centro de Pelotas. Em nota, o proprietário do Utopia lastimou a morte do músico, descrevendo-o como "uma alma generosa, cuja paixão pela música transcendeu as notas e tocou o coração de todos que tiveram o privilégio de conviver com ele."
O Clube do Choro de Pelotas também divulgou uma mensagem no Instagram, onde lamentou o falecimento do músico.
O sepultamento ocorreu na segunda-feira (12), no Cemitério São Francisco de Paula, em Pelotas, acompanhado por um cortejo musical em sua homenagem. Ele deixa a companheira Beatriz e filhos.
*Com informações do Acervo do Choro de Pelotas