Na Região Noroeste
Cidade gaúcha mantém a chama crioula acesa há mais de 30 anos: "Motivo de orgulho", diz idealizador
Fogo simbólico é mantido aceso desde 1991 no chão de propriedades do interior, que se revezam para não apagar o símbolo gaúcho
A pequena Eugênio de Castro, de 2,6 mil habitantes no noroeste gaúcho, faz questão de manter a chama crioula acesa há 33 anos de forma ininterrupta, e não só durante os festejos farroupilhas.
A conquista é de um tradicionalista e ex-patrão de CTG que conseguiu, junto do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), autorização para preservar uma chama no município.
Hoje com 83 anos, João dos Reis da Rosa lembra que a chama que queima até hoje foi acendida em 1991, quando ainda era patrão do CTG Ronda do Rio Grande, uma das duas entidades gaúchas de Eugênio de Castro.
À época, ele propôs em um encontro de patrões que o fogo simbólico não fosse apagado e o grupo concordou com o feito. Desde então, a preservação da chama crioula é de responsabilidade dos dois CTGs da cidade — o Querência da Pátria e o Ronda do Rio Grande.
Todos os anos, em 13 de setembro, a chama — que fica acesa em fogo de chão — é conduzida por cavaleiros através de um candieiro e levada para representar a história da Semana Farroupilha nos dois CTGs da cidade.
No dia 20, uma propriedade é escolhida pela patronagem para cuidar e preservar o fogo pelos próximos 365 dias.
O que mantém o fogo aceso
No último ano, quem cuidou com dedicação do fogo simbólico foi o casal de agricultores aposentados Evanilda e Adelar Reis. Em um galpão ao lado da casa, a chama fez companhia à família e a tantos tradicionalistas que, uma vez ao mês, se reuniam para o "jantar da chama".
— Teve meses que reunimos até 300 pessoas aqui — lembra Evanilda.
A quantidade de pessoas atraídas pela chama e pelos festejos regados a música e churrasco fez o casal ampliar um galpão para receber os convidados.
— Pra ver se agradava melhor o povo, a gente fez umas arrumação melhor e é com muita honra e satisfação que a gente recebia esse povo — comemorou seu Adelar.
Adair dos Anjos, tradicionalista que acompanha os festejos da chama há 33 anos, conta que o fogo simbólico atrai pessoas não só do município, mas de outros cantos do Rio Grande do Sul.
— Isso fortalece o tradicionalismo e dá vida à propriedade aonde essa chama está. Representa muito para o local, para as famílias que acolhem a chama e para o tradicionalismo como um todo — contou, orgulhoso.
Para manter o fogo aceso são necessários cerca de 15 metros quadrados de lenha por ano. O trabalho vai desde lascar lenha, guardar e monitorar para que o fogo jamais apague.
— A gente tem que cada vez tá renovando mais lenha e ter sempre lenha de reserva porque não pode terminar a lenha e o fogo não apaga nunca — resume seu Adelar, que faz o trabalho com gosto.
Quem foi o pioneiro da ação sente orgulho ao olhar para a conquista e ver que o legado está sendo passado de geração em geração.
— O sentimento é muito grande e muito alegre, porque a senhora pode dizer onde andar que Eugênio de Castro tem uma coisa que não tem dentro do Rio Grande do Sul, que é uma chama dentro do seu próprio município — terminou o idoso.