A estudante Alice Bruch dos Santos Schmidt, 18 anos, divide seu tempo entre as aulas do curso técnico no Instituto Federal do Rio Grande do Sul, o trabalho como assistente de vendas e a preparação para o vestibular. Com o sonho de cursar Psicologia, a aluna participa diariamente das aulas do cursinho popular Afirmação, lecionadas no Colégio Estadual Júlio de Castilhos. A iniciativa oferece aulas gratuitas e auxílios para garantir a permanência dos alunos.

O cursinho Afirmação é a oportunidade de jovens como Alice terem preparo de qualidade para as provas. O projeto recebe doações que são utilizadas para a realização de atividades extraclasse de fortalecimento de vínculos dos alunos com os professores, lanches durante as aulas, transporte dos estudantes e eventuais necessidades de inscrições. 

Foi o caso de Alice e outros 17 beneficiados, que não conseguiram isenção na inscrição para o vestibular da UFRGS, que custa R$ 180 cada. Felizmente, ontem, o valor necessário para que os alunos fizessem as inscrições para as provas foi arrecadado, graças a doações. Porém, parte dos recursos precisou sair do caixa do cursinho. Agora, o Afirmação busca ajuda para repor o valor.

Caráter social

Criado em 2015 pelo movimento Levante Popular da Juventude, o Afirmação atualmente é gerido apenas por voluntários. E Lourenço é um deles. Formado em Engenharia Química e sem experiência com licenciatura, o professor começou a dar aulas de química no cursinho em 2017. Desde lá, pegou gosto pela educação e, agora, transformou essa atividade em sua fonte de renda.

— Os professores são voluntários, muitos são da licenciatura, alguns estão fazendo, muitos já são professores, mas muitos não são da licenciatura. Um dos objetivos também é trazer gente de fora da área da educação. Hoje, faço isso como profissão — conta Lourenço.

Além de fornecer as aulas preparatórias 100% gratuitas, o cursinho Afirmação também acredita no viés da educação popular. Assim, os professores buscam conscientizar e politizar o ensino, mostrando o quão simbólico é a presença dos estudantes na universidade pública.

— Eu vejo como um movimento político, de não só dar uma educação gratuita, como se fosse caridade, mas um movimento para transformar a educação do país. Acredito que mais gratificante do que ver o aluno ser aprovado é ver ele se enxergando como um atuante político nessa situação —descreve o professor.

Otimista com a preparação

Alice vai prestar o vestibular com a cota de Ensino Médio em escola pública, porém, não conseguiu a isenção, mesmo enviando os documentos necessários para comprovação de sua vulnerabilidade. No ano passado, não teve que pagar a taxa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), porém, com a UFRGS, teve o mesmo problema.

— Até tivemos apoio dos professores pra ver em qual cota cada um se encaixava. Porém, não sei o que aconteceu. Eu tenho outras demandas para pagar que não o vestibular, por isso essa ajuda que o cursinho dá vai ser ótima — argumenta Alice.

Apesar da incerteza sobre a inscrição na prova, a estudante não parou a preparação. Ela também vai prestar o Enem, nos dias 3 e 10 de novembro, e está confiante que seu desempenho nas provas vai ser melhor do que o que atingiu no ano passado:

— Esse ano tive mais tempo para estudar e prestar atenção nas aulas, então estou muito mais confiante. Estou dando muito mais valor para as aulas do que conseguia fazer antes.

Como ajudar

/// Doando qualquer valor para o Pix cursinhoafirmacao@gmail.com, em nome de Nicoly Donati, uma das voluntárias do projeto

/// Doando periodicamente por meio do site apoia.se/cursinhoafirmacao

*Produção: Elisa Heinski