Coluna da Maga
Magali Moraes: juntando as pontas
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Na manhã de sexta passada, quando finalmente abriu o tempo e veio o tão esperado sol, eu fui a um velório. Sol é energia, luz, vida – e eu estava lá pra enxergar a morte. Curioso como nem todo velório é chocante ou absurdamente triste. Mas é sempre um ritual pra assimilar a ausência. Um reencontro, mesmo que tardio. E daí bate a tristeza dos afastamentos. Aqueles sem motivo aparente, sem brigas ou rancores, apenas o resultado de rumos diferentes que a gente toma.
Olhei o meu tio no caixão, irmão do meu pai, e ele parecia o meu avô. O bigodão continuava igual, só tinha envelhecido junto com ele. Por que mesmo a gente perdeu o contato? Corrigindo: eu seguia recebendo notícias suas, o que fazia ele estar presente de certa forma. Não lembro a última vez que falamos por telefone (se bem que o tom da sua voz eu lembro direitinho). Ver um ao outro, isso foi há décadas. O que mais eu lembrava dele, além dos almoços de domingo na infância?
Ironia
Por mais que exista carinho, algumas pontas permanecerão soltas em uma família (ou na maioria). Durante o velório, olha que ironia da vida, eu conheci melhor o meu tio. Também conheci familiares dele que vivem em outra cidade, mas que sempre estiveram próximos. Ouvi histórias, descobri gostos e apelido. Daqui e de lá, houve dedicação, respeito e amor. Fiquei feliz por ele, sabe assim? Se os últimos momentos foram tristes, meu tio viveu coisas boas e criou fortes vínculos.
Essa coluna não é um obituário. É um lembrete pra todo mundo que está vivo: bora demonstrar afeto, construir novas lembranças e tirar as antigas do baú, se reencontrar, se abraçar, rir junto, ligar pra ter notícias (ok, que seja mandar áudio), fazer uma visita, marcar um café, ajudar e pedir ajuda, tomar a iniciativa e aparar as arestas, juntar as pontas possíveis, não deixar pra depois o que importa. Eita clichê verdadeiro. A vida é um sopro, e o vento pode bater antes da hora.